O ano começa com um desafio: que nossa atenção e atuação estejam
voltadas para estabelecer políticas de enfrentamento às mudanças
climáticas.
Notícias sobre o clima estão dominando as pautas da mídia por todo o
mundo neste início de ano. De um lado, a América do Norte vem
enfrentando uma onda de frio que culminou, em 7 de janeiro, com o dia
mais gelado dos últimos 40 anos, quando a sensação térmica beirou 50 °C
negativos em Chicago (EUA). Enquanto isso, no Hemisfério Sul, uma onda
de calor com sensação térmica na média dos 50 °C atingiu o Rio de
Janeiro, junto com altos índices de radiação ultravioleta que chegou a
alcançar níveis extremos por todo país.
Cientistas afirmam que os diferentes fenômenos são, na verdade,
causados pelo mesmo problema: o aquecimento global. O clima estaria mais
quente e, como consequência, surgiria um padrão climático diferente,
alternando períodos de calor e de frio intensos.
Tais acontecimentos nos levam a retomar uma discussão que há décadas
ocupa a cabeça de estudiosos e interessados na temática do clima: como
poderemos reverter essa situação e atenuar os efeitos já percebidos?
Cada setor da sociedade tem seu papel a desempenhar para que esse
quadro seja modificado. As políticas climáticas independem de
fronteiras, destacando-se a necessidade de uma atuação global envolvendo
todos os países, por meio de políticas de clima internacional, de
governos que contribuam com o estabelecimento de políticas e metas de
redução de emissões e de desmatamento, empresas que invistam em inovação
e em gestão de baixo carbono e a sociedade civil reduzindo o consumo e
utilizando transportes públicos. Todos podem, por pequenas ações,
contribuir para reverter esse quadro.
O ano de 2013 foi marcado por atuações tímidas quanto às políticas
climáticas, mesmo tendo sido um ano com preocupantes fenômenos, como o
tufão devastador que atingiu as Filipinas, em novembro, e o nível de 440
ppm de concentração de CO2 na atmosfera, atingidos no mês de maio, a
taxa mais alta dos últimos 3 milhões de anos.
Há algum tempo, cientistas alertavam para a necessidade de essa cifra
ficar abaixo de 350 ppm, caso contrário, a temperatura poderia subir,
em média, 2 ºC até o fim do século. Para termos uma melhor dimensão
dessa alta concentração, basta lembrarmos que antes da Revolução
Industrial a concentração flutuava entre 180 ppm e 280 ppm.
A COP 19, realizada em dezembro, na Polônia, pouco impressionou,
deixando a sensação de estarmos vivendo mais do mesmo. Entre os poucos
temas que tiveram significativos avanços estão o regime de compensação
por perdas e danos e o chamado pacote REDD (aprovação de créditos por
Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), que foi completado e
começa a ser operacionalizado nos próximos anos.
A boa notícia veio com a iniciativa Carbono Neutro, existente desde
2010, que impressionou pela decisão de 414 cidades, em 45 países, que se
comprometeram a reduzir suas emissões em 1% ao ano. Juntas, as emissões
dessas cidades representam 4,2% das emissões mundiais.
Fórum Clima
O Fórum Clima – Ação Empresarial sobre Mudanças Climáticas, é um
grupo criado para estabelecer um diálogo entre o governo e o setor
empresarial e fazer com que as políticas de enfrentamento às mudanças
climáticas atinjam os melhores resultados possíveis. As 17 empresas
participantes desse grupo e as duas organizações apoiadoras – a União da
Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) e o Fórum Amazônia Sustentável –,
vêm trabalhando nessa agenda e estimulando outras empresas e
organizações a contribuir com a economia de baixo carbono, aproveitando
novas oportunidades de negócios e, assim, reduzindo significativamente
os impactos negativos das mudanças climáticas sobre o planeta.
No ano passado, o grupo de trabalho desempenhou importantes atividades nessa agenda, como o lançamento do Guia Metodológico para Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa na Engenharia e Construção,
para levantamento unificado das emissões na construção civil pesada, e a
participação ativa na consulta pública ao Plano Nacional sobre Mudanças
do Clima. O grupo entra em 2014 tendo como principal tarefa a de
harmonizar as políticas públicas em torno do objetivo comum de reduzir
emissões.
Ainda em dezembro de 2013, durante seu seminário anual, o Fórum Clima lançou a versão preliminar do estudo O Desafio da Harmonização das Políticas Públicas de Mudanças Climáticas – Volume II,
documento que destaca o aceleramento das mudanças climáticas pelo mundo
e exige medidas que reduzam suas causas – a chamada mitigação –, bem
como adaptações para melhor enfrentá-las. Em 2014, o estudo será
trabalhado pelo Fórum Clima a fim de que se alcancem soluções para esses
problemas e se diminuam as dificuldades em criar as regras, incentivos e
restrições necessárias para alterar esse cenário, dificuldades essas
consequentes da complexidade científica e da diversidade de atores
envolvidos em variados âmbitos: local, estadual, nacional e
internacional.
Na ocasião, também foram discutidas as graves previsões do IPCC sobre
os cenários futuros e a necessidade de que todos contribuam com a
redução de emissões com um imediatismo que não se teve até hoje.
Mencionou-se ainda a permissão de maiores emissões para os países
desenvolvidos, a qual, com a urgência que temos em reduzir por igual as
emissões em todo o mundo, não faz mais nenhum sentido. É necessário que
os países aprendam a se desenvolver considerando as limitações
climáticas e que, com isso, saibam conduzir uma economia sustentável
desde o inicio.
A meta deste ano do Fórum Clima é trabalhar nessas urgências e
defender a proposta do Brasil de um compromisso que leve em conta as
emissões iniciadas desde a Revolução Industrial, tendo em vista que é
preciso aliar justiça climática com mitigação e adaptação.
Política Nacional sobre Mudança do Clima
Em 2013, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima esteve disponível
para consulta pública e o Brasil foi decisivo ao instituir a Política
Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), adotando voluntariamente o
compromisso nacional de reduzir as emissões entre 36,1% a 38,9% até
2020.
Entre as ações do plano, destacam-se as seguintes: reduzir o índice
de desmatamento anual da Amazônia em 80% até 2020, de acordo com o Decreto nº 7390/2010;
ampliar o consumo interno de etanol em 11% ao ano nos próximos dez
anos; dobrar a área de florestas plantadas, para 11 milhões de hectares
em 2020; aumentar a reciclagem de resíduos sólidos urbanos em 20% até
2015; ampliar a oferta de energia elétrica de cogeração, principalmente a
que emprega bagaço de cana-de-açúcar, para 11,4% da oferta total de
eletricidade no país, em 2030; e reduzir as perdas não técnicas na
distribuição de energia elétrica à taxa de 1.000 GWh por ano, nos
próximos dez anos.
Esperamos que em 2014 a COP 20, que será realizada no Peru, prepare
as bases reais para um novo acordo climático, que engaje e comprometa
todas as ações, mitigando os efeitos negativos a partir de 2015.
Que 2014 seja o ano em que daremos passos expressivos em direção a
essas metas e que, nos próximos 12 meses, tenhamos a certeza de que
nossa economia caminha a passos largos e decididos para a política de
baixo carbono. Esperamos também que esse tema seja debatido de forma
transparente e responsável nas eleições deste ano.
Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos.
Fonte: Instituto Ethos.
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