Apesar da redescoberta pelos que ditam a tendência em Wall Street da
importância dos mercados “verdes”, os investimentos mundiais em energias
alternativas caíram 12% no ano passado. Um relatório da empresa de
dados Bloomberg New Energy Finance mostra que os investimentos caíram
tanto nos Estados Unidos quanto na China. Na verdade, para este país
asiático foi o primeiro ano em uma década em que não houve crescimento
nesse setor. Também caíram quase pela metade na Europa devido às medidas
de austeridade.
O setor solar liderou a queda. Os preços dos painéis fotovoltaicos
desmoronaram, provocando uma contração de 20% em toda a indústria.
Entretanto, houve aumento na demanda por instalações solares em
terraços, e os investidores se voltaram ao financiamento das companhias
que as fabricam, dessa forma duplicando o valor do Índice global de
Energia Solar MAC. Em maio, o grupo de investimentos Goldman Sachs
acordou aportar mais de US$ 500 milhões em painéis solares fabricados
pela empresa norte-americana SolarCity Corp.
“Por que a Goldman Sachs está investindo? Por que Warren Buffet
investe? A resposta é que não são bobos. Há muito dinheiro a ser ganho
aí” no futuro, explicou Michael Liebrich, chefe-executivo da Bloomberg
New Energy Finance. “Para cada painel solar que se venda abaixo do
custo, alguém está recebendo um painel solar barato. Estamos vendo o
início de uma nova era nas tecnologias da energia, e as finanças estão
fluindo. Esses chamativos acordos permitirão que seja muito mais fácil
para o lote seguinte”, afirmou Liebrich.
O executivo conversou com a IPS por ocasião da sexta Cúpula de
Investimentos sobre Riscos Climáticos, realizada no dia 14 na sede da
Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York. O encontro reuniu
quase 500 investidores privados, administradores de fundos de pensão e
banqueiros, que chegaram a duas conclusões fundamentais: a mudança
climática deve ser enfrentada e há dinheiro suficiente para isso.
Contudo, enquanto o setor das energias se consolida e amadurece, o
ambiente de investimentos não dá respiro aos moradores em países de
risco. No ano passado, houve um recorde de temperaturas altas na
Austrália, houve inundações no Sudão do Sul e as Filipinas sofreram o
pior tufão de sua história.
“Se não houvesse a mudança climática, de toda forma estaríamos
avançando para matrizes de energia baixa em carbono”, afirmou Christiana
Figueres, secretária executiva da Convenção Marco das Nações Unidas
sobre Mudança Climática (CMNUCC). “Mas o clima supõe um fator de
urgência. Agora sabemos que se demorarmos para equilibrar a matriz
mundial de energia poderemos enfrentar gravíssimas ameaças à economia
mundial”, alertou.
Na 19ª Conferência das Partes da CMNUCC, realizada em novembro na
capital da Polônia, foi criado o Mecanismo de Varsóvia para enfrentar as
perdas e os danos associados à mudança climática. Acordado apenas
alguns dias depois que o tufão Haiyan açoitou as Filipinas, o mecanismo é
um veículo para destinar fundos aos países mais pobres que sofrem a
carga dos desastres naturais associados com as crescentes emissões de
carbono. Mas ainda não está claro como será financiado.
“Temos um período para fazer isso, e basicamente são os próximos dez
anos”, ressaltou Figueres à IPS. Na próxima década “teremos que ser
capazes de estabelecer um teto mundial para as emissões”, acrescentou.
Apesar do consenso científico sobre as causas do aquecimento global,
muitos países continuam subsidiando os combustíveis fósseis, que geram
as principais emissões contaminantes, muitas vezes colocando em
desvantagem as energias limpas quando estas poderiam competir em um
mercado livre.
“Certas energias renováveis já são mais baratas do que os
combustíveis fósseis, apesar de estes serem beneficiados com subsídios”,
pontuou Figueres. “Assim, na verdade, são verdadeiramente competitivos.
Mas o ponto é que não devemos deixar que sejam casos isolados em certos
países”, acrescentou.
Em 2011, a Agência Internacional de Energia informou que os subsídios
para fontes renováveis somaram naquele ano US$ 88 bilhões, contra US$
500 bilhões para os combustíveis fósseis. E em 2013 o Fundo Monetário
Internacional informou que “as subvenções para a energia alcançaram a
impressionante cifra de US$ 1,9 trilhão em todo o mundo”, em sua maior
parte destinados a combustíveis fósseis.
“A política é extremamente importante, porque justamente agora
carecemos de um campo de jogo parelho entre energia limpa, uma indústria
emergente com grandes benefícios sociais, e a dos combustíveis fósseis,
altamente subsidiada e com impactos negativos”, opinou Mindy Lubber,
presidente da não governamental Ceres, coorganizadora da conferência.
“Políticas de governo completas que incentivem melhor as energias limpas
e avaliem adequadamente os impactos dos combustíveis fósseis seriam de
enorme utilidade para promover mais investimentos na energia limpa”,
afirmou.
Vários bancos importantes dos Estados Unidos e da Europa, incluindo
Bank of America, JP Morgan e Credit Agricole Corporate, adotaram
voluntariamente pautas sobre a emissão dos chamados “bônus verdes”
destinados a esforços de mitigação do aquecimento global. Fundos
públicos de pensões no Estado da Califórnia e na Suécia já investiram em
bônus semelhantes.
“As políticas de governo têm um papel fundamental, mas os próprios
investidores devem trabalhar mais duro para priorizar os investimentos
em energia limpa em todo tipo de ativos, incluindo o mercado de bônus e
em projetos de investimentos diretos”, disse Lubber à IPS. “O
estabelecimento de metas específicas para um portfólio de investimentos
em energia limpa enviaria um forte sinal aos mercados”, ressaltou.
Fonte: Envolverde/IPS
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