Nos últimos anos crescem em diversos setores as críticas em relação
ao modelo de educação conhecido como “progressão continuada”, onde os
alunos do ensino fundamental não repetem de ano, mas são acompanhados
ano a ano de acordo com sua capacidade cognitiva e de aprendizagem. Esse
sistema tornou relativamente comum que estudantes de séries avançadas
ainda apresentem dificuldades de alfabetização, mesmo estando em um
período em que já se espera um grau maior de conhecimento da língua.
Essa adequação entre série e aprendizagem é o modelo tradicional de
ensino, onde quem não consegue apresentar um bom desempenho em provas
não consegue passar de ano, repetindo a mesma série no ano seguinte. Por
muito tempo foi assim e isso se refletia em um alto grau de abandono
escolar. Crianças que não conseguiam acompanhar, passavam a ter um
desequilíbrio entre a idade e a série correspondente, além de sofrer
diversas formas de bullying.
O modelo continuado foi adotado por diversos estados e cidades como
uma forma de manter a criança na escola. Ele parte de alguns princípios
estruturantes, como o respeito ao ritmo de aprendizagem de cada criança,
onde o acompanhamento pedagógico ajuda e reduzir a defasagem. Mas tem
um princípio que não tem sido levado em conta quando se faz críticas ao
modelo, que é o da socialização. Mesmo crianças com alto grau de
dificuldade de aprendizagem, que por motivos muitas vezes alheios à
vontade das crianças, como subnutrição ou traumas, quando permanecem na
escola durante o tempo normal, cumprindo todas as séries, aprendem a
conviver com outras pessoas e a construir relações que vão ajuda-las a
trabalhar e a viver melhor.
A opção da reprovação e do abandono escolar, por outro lado, coloca
essas crianças na rua, ao alcance da violência e do crime, crescendo
discriminadas e muitas vezes ressentidas com a sociedade que as
abandonou.
Certamente o modelo da progressão continuada pode ser melhorado e
precisa de mais empenho por parte de gestores e educadores, mas a
alternativa é mais danosa para a sociedade e para as crianças que não
conseguem acompanhar pari-passo o currículo escolar. Portanto, antes de
se fazer críticas a uma educação mais inclusiva, capaz de trabalhar
elementos de cidadania no longo prazo, é bom fazer uma reflexão sobre os
péssimos impactos de se lançar crianças à rua sem nenhuma estrutura de
apoio.
O tempo na escola, mesmo que os resultados não possam ser medidos em
aprendizagem objetiva, ajuda na formação de cidadãos.
Fonte: Envolverde
Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde e especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
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