Rascunho do novo relatório da entidade afirma que evitar as
piores consequências das mudanças climáticas custará até 4% da produção
econômica mundial, valor que aumentará se demorarmos para agir.
Diversos veículos da imprensa internacional divulgaram nos últimos
dias dados do próximo relatório do Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), que será publicado oficialmente apenas em
abril.
De acordo com essas informações, o que o IPCC destaca é que a menos
que o mundo aja agora para frear as emissões de gases do efeito estufa
(GEEs), os efeitos negativos do aquecimento global representarão enormes
desafios para a humanidade ainda neste século, tornando-se cada vez
mais caros e difíceis de serem resolvidos.
Segundo o documento, manter o aquecimento global dentro de limites
considerados toleráveis, algo perto de dois graus Celsius, vai exigir
investimentos bilionários, grandes reduções nas emissões de GEEs e
soluções tecnológicas caras e complexas para retirar tais gases da
atmosfera.
Tudo isso deve ser feito nos próximos 15 anos, caso contrário será
ainda mais difícil lidar com a questão. “Adiar a mitigação até 2030
aumentará os desafios… e reduzirá as opções”, alerta o sumário do
relatório.
O estudo aponta que uma das principais razões para o aumento das
emissões é o crescimento econômico baseado na queima de fontes de
energia fóssil, como o carvão e o petróleo, atividade que estima-se que
deve crescer nas próximas décadas.
Por isso, a pesquisa indica que as emissões de dióxido de carbono
devem ser reduzidas de 40% a 70% até 2050 para que a meta de dois graus
Celsius de aquecimento estipulada pela ONU seja atendida.
Isso significa que os governos terão que apoiar e utilizar uma série
de tecnologias para retirar o CO2 da atmosfera, como a captura e
armazenamento de carbono (CCS) e o plantio de mais florestas.
O relatório também sugere que, para limitar o aquecimento global de
forma significativa, serão necessários investimentos da ordem de US$ 147
bilhões por ano até 2029 em fontes de energia alternativa, como eólica,
solar e nuclear.
Ao mesmo tempo, investimentos em energias fósseis teriam que cair em
US$ 30 bilhões por ano, enquanto bilhões de dólares anuais teriam que
ser gastos na melhoria da eficiência energética em setores importantes
como transporte, construção e indústria.
O documento, contudo, afirma que o caminho para mitigar as mudanças
climáticas não será nada fácil, visto que vai em direção contrária do
que está acontecendo atualmente. De acordo com o estudo, as emissões
globais subiram, em média, 2,2% ao ano entre 2000 e 2010, quase o dobro
em relação ao ritmo do período de 1970 a 2000, que era de 1,3% ao ano.
“A crise econômica global em 2007-2008 reduziu as emissões temporariamente, mas não mudou a tendência”, diz o relatório.
Além disso, o combate ao aquecimento global custaria 4% da produção
econômica mundial, e exigiria uma diminuição gradativa no consumo de
bens e serviços: entre 1% e 4% até 2030, entre 2% e 6% até 2050 e entre
2% e 12% até 2100.
“Sem esforços explícitos para reduzir as emissões de gases do efeito
estufa, os fatores fundamentais do crescimento das emissões devem
persistir”, afirma o estudo.
Outro problema que a pesquisa aponta é que as emissões de países
desenvolvidos estão sendo transferidas para nações emergentes, ou seja, a
suposta redução de emissões de alguns países ricos é na verdade menor
do que se imagina.
Desde 2000, as emissões de carbono para China e outras economias
emergentes mais do que dobrou para quase 14 gigatoneladas por ano, mas
destas, cerca de duas gigatoneladas foram da produção de bens para a
exportação.
“Uma parcela crescente das emissões de CO2 da queima de combustíveis
fósseis em países em desenvolvimento é liberada da produção de bens e
serviços exportados, principalmente de países de renda média-alta para
países de renda alta”, colocou o documento.
Esse estudo é o terceiro documento da quinta avaliação do IPCC sobre o
que se sabe sobre as causas, efeitos e futuro das mudanças climáticas.
Em setembro de 2013, o painel divulgou a primeira parte da avaliação, que confirma com 95% de certeza a influência humana sobre o aquecimento global.
O segundo relatório, sobre os impactos das mudanças climáticas, será
concluído e divulgado em março, no Japão. Este terceiro será finalizado e
divulgado em abril, na Alemanha. Um documento final, sintetizando as
três partes, deve ser lançado em outubro deste ano.
Os cientistas do painel concordaram em comentar o estudo assim que
ele estiver finalizado. “É um trabalho em progresso, e estamos ansiosos
para discuti-lo quando ele for finalizado, em abril”, observou Jonathan
Lynn, porta-voz do IPCC, em uma entrevista por telefone à Bloomberg.
Fonte: CarbonoBrasil.
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