sexta-feira, 8 de março de 2013

Sociedade civil enfrenta desafios e se renova após crise


A Abong promoveu, em 25 e 26 de fevereiro, o Seminário Internacional Governança e Solidariedade Global: o lugar da Sociedade Civil, que teve por objetivo debater os espaços de governança da sociedade civil em âmbito internacional. A mesa de abertura contou com a participação de Sérgio Haddad, do Grupo de Apoio ao Processo do Fórum Social Mundial – GRAP. Ele falou sobre a formação do campo de atuação das Organizações Não Governamentais no Brasil e no mundo, bem como da  experiência das organizações da sociedade civil e movimentos sociais do Brasil em espaços internacionais.

Grande parte das organizações da sociedade civil começou a ser formada nos anos 1970, período de mudanças, revoluções, golpes de estado e processos que alteraram profundamente o cenário internacional. Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa estava aberta para ampliar sua presença em outras regiões. Em contrapartida, na América Latina vigoravam políticas ditatoriais, fechando-a politicamente. Essa conjuntura redefiniu uma nova forma de relação entre os países do Norte e do Sul, e por meio das agências de cooperação iniciou-se um longo processo de apoio  aos processos de democratização e participação popular, com base na solidariedade global.

No Brasil, a forte presença da Igreja Católica, sobretudo através das comunidades de base e da teologia da libertação, impulsionou a criação de organizações pelas iniciativas da sociedade civil e voltadas a criação de nova cidadania. Para Haddad, a presença de pessoas ligadas à Igreja também tiveram papel fundamental ao denunciar a violência e os desrespeitos aos direitos humanos pelos agentes do Estado, ganhando destaque e força de pressão internacional: “Dom Elder Câmara seja talvez a figura mais importante nesse sentido”.

Redemocratização e virada do século

Na década de 80, o brasileiro pôde voltar a eleger seus representantes. As organizações da sociedade civil ganharam outro peso, debatendo e combatendo outras formas de opressão. Elas seguem em crescimento até a década de 90, financiadas por projetos da cooperação internacional. Entretanto, uma série de fatores transforma a conjuntura internacional: A queda do muro de Berlim; o fim da URSS com todas as consequências de movimentos democráticos na Europa e Ásia central; o fim do apartheid na África do Sul; o regime democrático no Camboja em 93; a liberação econômica da Índia em 91; e as manifestações na China de 89. Para Haddad, esses movimentos apresentam uma “tendência de democratização por um lado e também um momento em que a voz da sociedade se faz mais presente”.

O século XX foi inaugurado com uma crise econômica global, gerada pelas especulações do mercado financeiro. Uma nova ordem mundial tem se desenvolvido desde então: a China se torna a segunda economia no mundo; a crise de 2008 leva a uma situação de decadência do modelo de bem estar social, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, com diversas políticas sociais abandonadas em prol dos agentes financeiros.

Hoje

Nesse contexto, diferentes organismos passam a produzir pesquisas para compreender as mudanças em curso e seus impactos no campo de atuação das Organizações não governamentais (ONG). Com a emergência das Revoluções no mundo Árabe e de mobilizações de movimentos organizados de forma autônoma por pessoas e entidades da sociedade civil, torna-se fundamental a reflexão sobre seus impactos na construção de caminhos alternativos ao sistema vigente.

Em sua conferência, Haddad apresentou duas delas. Lançada em 2012 por um conjunto de seis ONGs (localizadas nos países:Tanzânia, África do Sul, Índia, Inglaterra, Holanda e Uruguai), a pesquisa Civil Society @ Crossroads / Shifts, Challenges, Options? faz uma leitura sobre o papel de organizações da sociedade civil e movimentos sociais em diversos países. Como resultado, aponta-se algumas tendências que permeiam os movimentos, como as novas tecnologias de informação, aumento no fluxo de informação e na solidariedade global entre os Cidadãos. Os protestos estudados refletem uma desconexão entre as expectativas dos manifestantes e as políticas públicas vigentes, além da visível e constante concentração de renda e poder.

Na sequência, Haddad apresentou resultados de um relatório divulgado em janeiro de 2013 e idealizado durante o Fórum Econômico de Davos, que traça algumas perspectivas para o futuro das Organizações Não Governamentais. Construído a partir do conhecimento de 200 líderes da sociedade civil, 80 especialistas e cinco oficinas de visões estatísticas, o texto traz outro tipo de abordagem e discussão dos “próximos passos” a serem dados tanto em nível local como internacionalmente. Tais pesquisas auxiliam aqueles que trabalham em conjunto com as organizações e no fomento à ação direta da população.

Fonte: Abong

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