Existem hoje, no Brasil, pelo menos 30 selos confiáveis para
identificar se um produto é sustentável, mas existem muitos outros que
são apenas propaganda enganosa.
Você já reparou na quantidade de selos verdes que aparecem estampados
nas embalagens de diversos produtos espalhados por aí? São marcas que
se dizem ecológicas, sustentáveis, preocupadas com o meio ambiente. A
pergunta é: dá para confiar?
Uma pesquisa recente da Associação de Defesa dos Direitos dos
Consumidores, a Proteste, revelou várias irregularidades no uso de selos
verdes. “A palha de aço, por exemplo, dizia que não contém bactérias,
tem ali um apelo “eco”, mas nós sabemos que isso não é verdade. Existe
bactéria. Alguns produtos se dizem orgânicos. Quando a Proteste foi
analisar, tem componentes químicos. Os xampus também se diziam
ecológicos. Na verdade eles têm parabenos, que é uma substância química
encontrada nesse tipo de produto”, diz Maria Inês Dolci, coordenadora da
Proteste.
Para piorar a situação, em alguns casos, os produtos com selo verde
podem custar mais que o dobro da versão original sem nenhuma vantagem
para o meio ambiente. Para a Associação Brasileira de Normas Técnicas,
falta credibilidade à maioria absoluta dos selos verdes. “Eu diria que,
no mundo, uma média de uns 500 selos verdes dentro os quais você poderia
comparar, em 100 você poderia realmente ter uma confiança”, afirma Guy
Ladvocat, gerente de Certificação de Sistemas da ABNT.
A ABNT lançou o próprio selo em 2008. Para obter a certificação, o
fabricante é obrigado a seguir até 30 exigências, que variam de acordo
com o produto ou serviço. O custo da certificação varia de R$ 15 mil a
R$ 150 mil. Ao todo, 235 produtos e três serviços já receberam o selo da
ABNT.
Até o bondinho do Pão de Açúcar entrou na onda do selo verde. Reduziu
o consumo de água e energia, intensificou a coleta seletiva de
recicláveis e realizou vários outros ajustes para se tornar o primeira
atração turística certificada ambientalmente do Brasil.
Se a propaganda é a alma do negócio, quem anuncia produtos
sustentáveis que não merecem ser chamados assim tem culpa no cartório.
Desde 2011, esses anunciantes estão na mira do Conar, o Conselho
Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. “Para dar veracidade, para
dar credibilidade, e mais, responsabilidade de fato socioambiental das
empresas, marcas e produtos em sua comunicação”, diz Edney Narchi,
vice-presidente executivo do Conar.
Em um ano e meio, foram analisadas 30 campanhas publicitárias
suspeitas. Nove foram obrigadas e fazer ajustes, e duas foram suspensas.
“A grande maioria das falhas foi na omissão das informações. Alegava-se
uma vantagem sem fazer com que o consumidor pudesse comprovar a
veracidade daquilo”, afirma Narchi.
Apesar do avanço da consciência ecológica, o Brasil continua sem uma
lei que regule a certificação ambiental. Enquanto a lei não vem, não há
outro jeito de se proteger senão buscar informações sobre o tal selo
verde.
“Principalmente qual foi a instituição que concedeu esse selo porque,
sendo uma instituição que você conhece, que você sabe que tem
reconhecimento nacional e internacional, vai ter uma certeza muito maior
de que aquele trabalho foi feito de acordo com as boas práticas da
rotulagem ambiental, que é o mais importante para você saber”, diz
Ladvocat.
André Trigueiro é jornalista com pós-graduação
em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a disciplina
geopolítica ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo
Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço
na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um
dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e
Ecologia, lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro,
pela Editora FEB, em 2009. É apresentador do Jornal das Dez e editor
chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News. É também
comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de
Janeiro.
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