A cada início de ano os meios de comunicação publicam reportagens e
análises que identificam os principais problemas da rede pública
estadual de São Paulo. Um dos pontos destacados é a falta, nas salas de
aula, de professores de muitas disciplinas, como Física, Química,
Biologia, mas também Sociologia, Filosofia e outras. Isto afeta
diretamente o direito dos estudantes a uma educação de qualidade.
Múltiplos fatores interferem na qualidade do ensino, entre eles a
profissionalização e as condições de trabalho dos professores; as
condições de ensino-aprendizagem dos estudantes, a gestão escolar; a
organização curricular, a formação inicial e continuada dos
profissionais da educação; a infraestrutura e equipamentos das unidades
escolares etc. A qualidade da educação pública também está relacionada a
fatores como as políticas sociais implementadas pelo poder público,
distribuição de renda, desigualdade social, ampliação das redes de
ensino e atendimento ao direito à educação, entre outros.
É função primordial da escola formar cidadãos, por meio não apenas da
transmissão sistemática do saber historicamente acumulado, patrimônio
universal da humanidade, mas também da produção coletiva de novos
conhecimentos. Neste sentido, a escola precisa estar articulada a um
projeto educacional de conteúdo humanista, comprometido com a
escolarização de todos com qualidade.
Inegavelmente, o professor é o elemento central do processo
ensino-aprendizagem. Para além da estrutura e da infraestrutura, sem
dúvida elementos importantes, devemos reconhecer que o ofício do
professor é único e insubstituível, e como tal deve ser valorizado. É
necessário, sobretudo, recuperar a escola como processo de humanização,
no sentido do atendimento das necessidades do ser humano que nela
trabalha e estuda. Sem isto, a escola pública não alcançará o êxito
esperado pela sociedade.
O professor da rede estadual de ensino de São Paulo vem sendo
submetido a condições que não favorecem o seu trabalho. A gestão escolar
encontra-se extremamente centralizada, quer no que diz respeito à
formulação das políticas educacionais – na qual os profissionais da
educação não ouvidos – seja na formulação e execução do projeto
político-pedagógico de cada unidade escolar.
Os artigos 13 e 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
asseguram aos professores “participar da elaboração da proposta
pedagógica do estabelecimento de ensino”, a “participação dos
profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da
escola”, bem como a “participação das comunidades escolar e local em
conselhos escolares ou equivalentes”, nem sempre, porém, isto ocorre de
fato. Os professores são vistos apenas como executores das políticas
definidas pelas autoridades e gestores educacionais e os conselhos de
escola, na maior parte das vezes, cumprem um papel protocolar e
homologatório.
A valorização dos professores se assenta no tripé “salário,
carreira/jornada e formação, inicial e continuada”. Hoje a carreira do
magistério paulista não corresponde às necessidades da escola pública.
Ela não atrai os melhores profissionais e muitos professores deixam as
escolas estaduais para se dedicarem a outras atividades, dentro ou fora
de sua área de formação. Os salários são muito baixos. É sintomático que
esteja decaindo, ano após ano, o número de estudantes matriculados e
formados em licenciaturas.
A formação inicial, nas faculdades públicas e privadas, encontra-se
divorciada da realidade das escolas, enquanto o sistema de ensino não
oferece formação continuada no local de trabalho. Muito menos cria
condições para que isto ocorra, ao não aplicar a chamada “jornada do
piso”, dedicando no mínimo 33% da carga horária semanal do professor
para atividades realizadas fora da sala de aula.
Ao mesmo tempo, porém, aplica aos professores sucessivas avaliações,
inclusive para manter grande parte do contingente (hoje quase 50 mil
profissionais) em situação de contratação temporária, sem direitos
básicos. O Estado pretende selecionar professores, quando há falta
destes profissionais. Um contra-senso que leva o governo a convocar
todos os professores disponíveis, mesmo aqueles que não realizaram a
prova ou não obtiveram a nota exigida.
Este quadro, aliado à escalada de casos de violência dentro e no
entorno das escolas, vem provocando o adoecimento dos professores,
perceptível no cotidiano das escolas e confirmado por pesquisas
realizadas pela APEOESP, em parceria com a Unifesp e Grupo Géia; pela
CNTE, em convênio com Universidade de Brasília; pela Fundacentro e
outras instituições públicas e privadas.
Os números demonstram que a carreira docente já não atrai os jovens
estudantes na proporção das necessidades do nosso país. De acordo com
dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (Inep/MEC), em 2007 havia 2.500.554 profissionais atuando em
sala de aula, mas em 2009 este número baixou para 1.977.978 professores.
O Censo do Ensino Superior, também realizado pelo Inep/MEC, registra
que de 2005 a 2009 o número de estudantes universitários formados em
cursos de docentes para a Educação Básica caiu de 103 mil para 52 mil. O
mesmo se repete no caso dos cursos de licenciatura, tendo havido queda
no interesse pela carreira: naquele período o número de formados em
licenciaturas caiu de 77 mil para 64 mil.
O Brasil precisa urgentemente rever esta situação. A rede estadual de ensino de São Paulo, a maior do país, deve dar o exemplo.
Fonte: Portal Aprendiz.
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