Muitos brasileiros
cresceram ouvindo que o país tem água em abundância, mas sem o alerta de
que esse recurso natural é um bem finito e em muitos lugares até mesmo
escasso. As grandes regiões metropolitanas são as que mais sofrem com a
baixa disponibilidade hídrica. No Paraná, por exemplo, na região
metropolitana de Curitiba, a disponibilidade é 500 metros cúbicos (m³)
por habitante ao ano, enquanto a recomendação da Organização das Nações
Unidas (ONU) é 1.700 m³ anuais por habitante.
Diante desse quadro de escassez, a solução é economizar, reciclar e
investir no uso consciente da água. Uma prática que vem se tornado cada
vez mais comum no Brasil é o reuso da água. Empresas de saneamento
tratam os esgotos e reutilizam esse efluente tratado, a chamada água de
reuso.
“Água de reuso é um efluente tratado, resultante de todo um processo
de purificação e tratamento. Essa água atende aos parâmetros de
qualidade exigidos na legislação brasileira e pode ser usada para fins
que não sejam o consumo humano”, explica o diretor de operações da
Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Ricardo Rover Machado.
Segundo o gerente de planejamento e desenvolvimento ambiental da
Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Pedro Luís Prado Franco,
essa água não é própria para o consumo humano, mas tem qualidade
suficiente para ser usada na irrigação agrícola e de jardins, na
indústria e na lavagem de ruas, praças, calçadas e automóveis, entre
outros.
“O reuso de água é extremamente importante para áreas de escassez
hídrica. Essa água que estaria sendo tratada e lançada no rio, vai ser
novamente usada fazendo com que a pressão na demanda por recursos
hídricos diminua”, diz Pedro Luís.
No Sul do país, a água de reuso tem sido aproveitada na irrigação de
lavouras de arroz. Por lá, a produção de água de reuso chega a 30 mil
litros por dia, o suficiente para irrigar uma área de 270 hectares.
“Setenta e cinco por cento de toda água que é captada nas duas maiores
bacias da região metropolitana de Porto Alegre – a do Sinos e a do
Gravataí – são usados na irrigação. Então, [aproveitar] a água de reuso
para a irrigação diminui consideravelmente a captação nos mananciais,
preservando os cursos d’água e aumentando a disponibilidade para o
consumo humano”, destaca o diretor de operações da Corsan.
No Rio de Janeiro o exemplo começa em casa. A nova sede da Companhia
Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) foi construída com sustentabilidade
ambiental e entre outras medidas aproveita água de reuso nas atividades
que não exigem água 100% limpa, como nos sanitários e no cultivo de
jardins. Semanalmente são armazenados 88 mil litros de água para suprir
essas demandas.
Também no Rio está o maior projeto de reuso de água industrial do
mundo. Em parceria com a Petrobras, a Cedae vai fornecer 1.500 litros de
água por segundo para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro
(Comperj).
“A água de reuso na indústria é usada em processos [nos quais]
normalmente a empresa usa água potável, uma água que serve para a
população. Ao adotar a água de reuso há uma economia em escala: você
deixa de jogar o efluente tratado nos cursos d’água; promove economia da
água tratada que é reaproveitável; diminui a captação de água e aumenta
a disponibilidade para a população”, diz o assessor ambiental da Cedae,
José Maria de Mesquita Junior. Segundo cálculos da Cedae, o montante de
água envolvido nesse projeto poderia abastecer 500 mil pessoas.
No Nordeste, região que sofre com a seca, os efluentes tratados
também são aproveitados. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do
Norte (Caern) aproveita a água de reuso na irrigação de uma plantação
de capim no município de Pendências. O capim é base de ração animal e
também serve para a fabricação de lenha ecológica.
O projeto é piloto e disponibiliza 700 mil litros por dia de água de
reuso, mas a experiência deu tão certo que a companhia pretende ampliar a
prática. “Esse é o laboratório em escala real que precisávamos. A ideia
agora é continuar este projeto e até mesmo expandi-lo para outros
cultivos”, conta o engenheiro de desenvolvimento de operações da Caern,
Marco Calazans.
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