Definitivamente, a economia neoclássica têm sérias dificuldades em
aceitar o fato de que a economia é apenas um subsistema do meio
ambiente. Centrados numa visão míope do diagrama do fluxo circular
(empresas fornecendo bens e serviços às famílias dada as condições do
mercado de fatores de produção) que é de natureza hermeticamente
fechada, isolada e restrita, os economistas tradicionais não enxergam
(ou não querem enxergar) a completa inter-relação existente entre a
economia e a natureza.
Diante disso, passam por cima das questões ambientais, pois entendem
que a economia é soberana e superior a tudo. Para os “tradicionais”, as
questões de ordem ambiental não passam de meros setores pertencentes à
macroeconomia, como são os casos da pesca, da agropecuária, das
florestas, entre tantos outros. Para esses não há limites e obstáculos
ditados pelo ambiente e a expansão da atividade produtiva pode ocorrer
sem maiores transtornos.
Pensando assim, os economistas tradicionais ignoram o que realmente
se sucede em termos reais de movimentação dentro de um sistema
econômico: entra (materiais) e sai (resíduos); entra matéria e energia,
sai ejetada poluição (lixo); logo, a economia não pode ser vista como um
sistema fechado. Ao contrário: a economia nada mais é que um sistema
aberto dentro de um amplo sistema (o ambiente) que tem a finitude como
sua maior característica.
Nesse ponto, convém chamar a atenção para o desenho aqui apresentado:
fluxos de entrada (materiais e energia) e de saída (produtos e resíduos
ejetados) precisam ser considerados em sua essência, e não relegados ao
descaso como é comum pela visão econômica tradicional. A economia
necessita (e sempre precisará) da natureza, e não o contrário. Nas
palavras de Clóvis Cavalcanti, “não existe sociedade (e economia) sem
sistema ecológico, mas pode haver meio ambiente sem sociedade (e
economia)”.
É totalmente equivocado pensar a atividade econômica de forma ermitã.
A economia é apenas uma parte de um todo; o todo é o meio ambiente.
Nessa linha sistemática de defesa em torno do meio ambiente, quando
se aponta dedo em riste sobre a atividade econômica, pontuando a
exploração de recursos em favor de um crescimento antieconômico, é
forçoso aventar que o “tipo de economia” que pretendemos, capaz de
assegurar a capacidade de progresso à geração futura, não está fazendo o
jogo do antiprogresso, do antidesenvolvimento, da antievolução. Para
termos progresso, desenvolvimento e evolução, de fato e de direito, é
necessário entender que há limites biofísicos, e esses obrigatoriamente
devem ser respeitados.
Por isso, não há como escapar da seguinte premissa: crescer significa
usar o meio ambiente, e mais crescimento significa menos meio ambiente,
pois como aponta Herman Daly, a biosfera é finita, não cresce, é
fechada (com exceção do constante afluxo de energia solar) e obrigada a
funcionar de acordo com as leis da termodinâmica.
Também por isso e para isso, cabe destacar que qualquer subsistema,
como a economia, em algum momento deve necessariamente parar de crescer e
adaptar-se a uma taxa de equilíbrio natural.
Funda-se nesse argumento um fato imperioso: parar de crescer não
significa parar de se desenvolver. É perfeitamente possível prosperar
sem crescer. Prosperidade é sinônimo de bem-estar para todos. Logo, não
pode haver prosperidade em ambientes que são constantemente expostos à
degradação, reduzidos a poluição como objeto final, afetando a qualidade
de vida das pessoas.
Com isso, é urgentemente necessário trocar a busca incessante do
crescimento (expansão quantitativa) pelo desenvolvimento (melhoria
qualitativa). No linguajar dos economistas-ecológicos crescimento
econômico vai até certo ponto, ultrapassado esse ponto não há melhorias,
mas sim perdas significativas começando pela qualidade do ar que
respiramos e pela completa destruição do espaço natural, afetando
sobremaneira a qualidade de vida nas cidades, tornando-as
insustentáveis.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba.
Fonte: Adital.
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