da Agência Brasil
O treinamento de funcionários para não reproduzir
práticas racistas poderia ser uma das medidas adotadas pela
concessionária de automóveis importados BMW Autocraft, acusada de
discriminar uma criança negra na capital fluminense. A Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) se disponibilizou
para apresentar um programa específico para a revendedora da BMW.
De acordo com o ouvidor da pasta, Carlos Alberto Junior, o governo
não pode recomendar nenhuma medida para as instituições privadas ou
públicas combaterem o chamado racismo institucional, mas pode sugerir a
adoção de curso de capacitação voltado para o enfrentar o problema e que
é desenvolvido por uma série de empresas como a Petrobras.
“Não cabe à Seppir fazer recomendações à iniciativa privada, mas
sugerimos, se eles quiserem requalificar a equipe, adesão ao Programa
Pró-Equidade de Gênero e Raça. Só não vamos procurá-los para não haver
intervenção”, explicou Carlos Alberto. A ouvidoria é o órgão do governo
responsável por receber denúncias de racismo e encaminhar ao Ministério
Público.
A Seppir presta apoio ao consultor Ronald Munk e à professora
Priscilla Celeste cujo filho adotivo de 7 anos, que é negro, foi
discriminado na concessionária BMW Autocraft, na zona oeste do Rio no
início do mês. O caso ganhou repercussão depois que a família não
aceitou as explicações da revendedora para o ocorrido e denunciou o caso
na internet.
Segundo a mãe da criança, o gerente de vendas da revendedora mandou o
menino sair da loja quando o garoto, que estava distante assistindo
televisão, se aproximou dos pais. O funcionário não percebeu que o
menino era filho dos clientes, segundo a mãe. Por meio de carta, o casal
relatou o fato à direção da concessionária, que classificou o caso como
um mal-entendido.
“O mal-entendido é uma desculpa para situações de racismo. 'Não foi
bem isso que meu funcionários quis dizer, você entendeu errado, não
chamei de neguinho'. Não entendemos nada errado, aconteceu, o gerente
não imaginou que aquele menino era nosso filho”, disse Priscilla. A
concessionária e o escritório da BMW no Brasil não responderam à Agência Brasil.
De acordo com o ouvidor da Seppir, Carlos Alberto, é comum casos de
racismo serem classificados como mal-entendido. Para ele, a sociedade
brasileira “atura o racismo”.
“Ficamos chocados quando uma pessoa chama um negro de macaco, mas o
fato de uma criança negra ser agredida por estar com uma família branca
é um mal-entendido, porque ele poderia estar pedindo esmola ou vendendo
bala. Mas se a cor dessa criança fosse outra, ele teria sido expulso
[da concessionária]? Não é a questão de estar vendendo bala é por ele
ser negro”, disse.
Os Munk têm mais de 75 mil seguidores na página do Facebook Preconceito Racial Não É Mal-Entendido,
criada pela família da vítima para provocar uma retratação da empresa.
“Não nos interessa indenização, queremos um compromisso para que isso
não aconteça mais. Tentar descaracterizar, nessa toada do mal-entendido,
não nos leva adiante”, disse a mãe.
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