Nações Unidas, 14/1/2013 – Antes do recesso em suas sessões, no final
de dezembro, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU)
destacou o papel fundamental que deve ter a energia na agenda econômica
internacional a partir de 2015, e declarou o período entre 2014 e 2024
como Década da Energia Sustentável para Todos.
A declaração,
adotada por unanimidade pelos 193 Estados-membros, foi acompanhada de
duras críticas: mais de 1,3 bilhão de pessoas em todo o mundo ainda não
têm eletricidade, e mais de 2,6 bilhões dependem de biomassa para
cozinhar e se aquecer. A Assembleia Geral também expressou preocupação
pelo fato de que, “mesmo havendo serviço de energia disponível, milhões
de pobres não poderem pagá-lo”.
Antes mesmo da adoção da
resolução, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, havia alertado: “Não
pode haver desenvolvimento sustentável sem energia sustentável”. Existe
um crescente reconhecimento entre os líderes mundiais de que o acesso à
energia é crucial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio (ODM), incluindo uma drástica redução da extrema pobreza e da
fome até 2015, em relação aos níveis de 1990.
Este será um dos
temas centrais da III Cúpula Mundial Sobre a Energia do Futuro, que
acontece esta semana em Abu Dhabi, quando se analisará a importância de
todas as formas de energia, como bioenergia, geotérmica, hidráulica,
oceânica, solar e eólica. A cúpula é parte da Semana da Sustentabilidade
de Abu Dhabi, que começou ontem e vai o dia 17, que, por sua vez,
acontece paralelamente à Cúpula Internacional da Água.
Uchita de
Zoysa, do Centro para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, disse à IPS
que a energia na época moderna é vital para o bem-estar e a
prosperidade, e já não deve ser considerada um luxo. “A energia
necessariamente deve ser considerada um direito humano”, afirmou,
acrescentando que as negociações internacionais sobre mudança climática
deveriam incluir um debate sobre o consumo e a produção sustentáveis,
bem como sobre o acesso igualitário à energia, ressaltou.
“Nenhuma
negociação pode ter êxito se uma parte da humanidade for marginalizada
de seu direito ao bem-estar e à prosperidade. Cada comunidade e cada
indivíduo devem ter oportunidades iguais de progredir na vida”, afirmou
Zoysa, também presidente da organização internacional Global
Sustainability Solutions.
Por sua vez, Kaisa Kosonen, conselheira
em políticas climáticas do Greenpeace Internacional, disse à IPS que
mais de 84% das pessoas sem acesso à energia vivem em áreas rurais.
Portanto, as soluções dependem principalmente da descentralização e do
uso de fontes como eólica, solar e biogás, que também são benéficas do
ponto de vista econômico, pontuou.
Segundo a Agência Internacional
das Energias Renováveis, as fontes alternativas representam a solução
mais econômica para a extensão dos serviços elétricos. Além disto,
segundo Kosonen, seu aproveitamento protege os consumidores dos aumentos
de preços associados ao mercado dos combustíveis fósseis. A conselheira
explicou que o papel da ONU é manter sua atenção nas necessidades
gerais dos pobres, e não nos interesses das grandes indústrias.
Isto
significa, por exemplo, que não deve medir o êxito apenas pelo fato de
haver energia “disponível” ou pelos quilowatts produzidos por hora,
detalhou Kosonen. “A energia também deve ser acessível, e alcançar as
pessoas que dela necessitam”, ressaltou. Seu argumento é que as soluções
energéticas devem estar a serviço das sociedades locais e das metas
ambientais, e nunca agravar a escassez de água, os níveis de
contaminação e outros problemas. E acrescentou que os custos ocultos
destes e de outros impactos devem ser considerados na hora de traçar
planos e tomar decisões.
Zoysa afirmou que a “energia para todos”
deve ser uma inquestionável meta de desenvolvimento sustentável para a
agenda internacional a partir de 2015, quando vencem os ODM. A história
demonstra que a energia com base no carbono constitui um grande
obstáculo para o desenvolvimento sustentável e representa uma grande
ameaça à existência da humanidade por meio da mudança climática,
acrescentou. Portanto, a responsabilidade dos líderes, tanto locais como
internacionais, é fornecer energia sustentável para todos, ressaltou,
acrescentando que isto pode ser uma meta realista “somente se forem
reformados radicalmente nossos padrões de produção e consumo”.
Consultada
sobre o papel da ONU, a especialista disse que o fórum mundial deve
assegurar que as soluções promovidas estejam em linha com outras metas
de desenvolvimento. A energia precisa de soluções avaliadas como um
todo, em lugar de se concentrar apenas na eletricidade, enfatizou. “E as
Nações Unidas devem continuar desempenhando um papel importante,
conectando diferentes ações, alinhando os esforços das instituições
existentes com metas comuns, ajudando a mobilizar recursos financeiros e
transferências de tecnologia, e assegurando a responsabilidade e a
transparência”, concluiu Zoysa.
Fonte: Envolverde/IPS
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