Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Além
de dirigir nossos votos de feliz ano novo às pessoas com as quais nos
relacionamos, todos nós desejamos um futuro melhor para a humanidade e para o
planeta Terra, tão ameaçado pela crise ecológica. Entretanto, para que nossos
votos possam ser eficazes, é importante que o nosso desejo se concretize em
ações de solidariedade que levem a uma nova organização da sociedade. Nossos
desejos de um futuro melhor devem se concretizar no apoio aos movimentos
populares e fóruns que trabalham por um novo mundo possível.
Este
ano novo encontra o mundo inteiro envolvido em uma crise que atinge as bases do
sistema social e econômico dominante, joga as novas gerações em uma situação
deprimente de insegurança e desemprego estrutural e ameaça destruir até as
próprias condições da vida no planeta Terra. Frente a isso, o único continente
no qual tem havido alguma reação e tem surgido algo de novo e importante é a
América Latina. Como diz o professor Boaventura de Sousa Santos, cientista
social português: "é na América Latina que tem despontado uma esperança nova
para o mundo todo, um movimento que pode gerar um tipo novo de socialismo
democrático para o século XXI”. Esse movimento social e político que hoje
vigora em vários países como a Bolívia, o Equador, a Venezuela e outros recebe
em cada país um nome diferente, mas pode ser chamado de processo bolivariano
porque se inspira em Simon Bolívar, que no inicio do século XIX, liderou o
movimento de libertação de vários países da América do Sul.
Todo
esse movimento social começou no dia 1 de janeiro de 1994, quando, no sul do
México, os índios de várias etnias maya se reuniram e fizeram ouvir sua voz
contra o sistema social e econômico dominante e a marginalização secular a qual
os índios estavam sujeitos no México e em todos os países do nosso continente.
Essa insurreição denominada "zapatista” se tornou importante, conquistou para
os índios vários direitos e há 18 anos, se mantém na resistência. Agora, no
final de dezembro, milhares de índios desfilaram pacificamente em várias
cidades do sul do México e no aniversário da revolução zapatista, proclamaram
várias medidas de solidariedade e de articulação entre eles e os movimentos
sociais do país. Nesse manifesto, afirmavam: "Somos os mesmos índios que viviam
a 500 anos no momento da conquista, viviam e resistiam há 18 anos, quando
começamos esse nosso movimento nacional e hoje quando ainda resistimos e nos
mantemos unidos e fiéis à mesma causa. Somos os menores, os que vivem, lutam e
morrem nos mais longínquos rincões da pátria, mas não nos vendemos, nem nos
rendemos. Somos irmãos e irmãs, companheiros e companheiras de toda a
humanidade, especialmente das pessoas que se unem nos movimentos sociais e
buscam um mundo novo possível”.
Nesses
dias de janeiro, em várias regiões do Brasil, comunidades cristãs populares
encerram seus giros de folias e outras devoções que recordam os reis magos em
sua busca de Deus. Hoje somos todos nós, homens e mulheres em busca de um novo
mundo possível, esses reis magos novos, em busca do amor solidário e da paz, do
qual Jesus Cristo, nascido em Belém, é um símbolo e um instrumento. Que nesse
ano, intensifiquemos essa busca e avancemos nesse caminho.
Fonte: Adital
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