Nova York, Estados Unidos, 15/6/2012 (IPS/TerraViva) – A discussão
central da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentável, a Rio+20, que acontecerá na próxima semana no Rio de
Janeiro, será em torno do conceito de “economia verde” e sobre a melhor
forma de defini-la.
“Se a economia for definida claramente
apontando para um desenvolvimento sustentável, sem recorrer a
experimentos baseados no mercado ou em soluções técnicas, será um
êxito”, disse Alex Scrivener, oficial de políticas do World Delepoment
Movement (WDM – Movimento Mundial de Desenvolvimento), com sede em
Londres. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban
Ki-moon, afirmou que a comunidade internacional deve chegar a um
consenso sobre a economia verde inclusiva, “que tire as pessoas da
pobreza e proteja o meio ambiente”. Isto, acrescentou, exige colaboração
internacional. Contudo, também investimento, financiamento,
experiências compartilhadas e transferência de tecnologia.
Um tema
fundamental da Rio+20 será como integrar uma “economia verde” ao
conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável. Segundo o WDM, “uma
verdadeira economia verde adotará a justiça econômica e o direito das
comunidades pobres de definirem seu próprio caminho para sair da pobreza
e acabar com as políticas perniciosas que priorizam o lucro em relação
às pessoas e ao meio ambiente”. O WDM também diz que esta economia porá
fim “à nossa obsessão pelo crescimento econômico e um consumo não
sustentável, os quais reorientará insistindo em como cobrir as
necessidades de todo o mundo de maneira verdadeiramente sustentável”.
O
rascunho do plano de ação, documento a ser discutido na Rio+20,
divulgado em janeiro, era vago e deixava de fora muitos dos compromissos
concretos, diz a organização, mas as negociações seguintes parecem
tê-lo diluído ainda mais. Sem declarações específicas, como a
disponibilidade de fundos para facilitar para os países em
desenvolvimento a implantação de políticas verdes ou um cronograma
concreto para o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis, o documento
final da conferência corre o risco de ser uma declaração insossa de
generalidades, destaca o WDM.
Esta organização observa que as
nações industrializadas, como a Grã-Bretanha, além dos bancos e das
companhias multinacionais, utilizam o termo “economia verde” como
cortina de fumaça para esconder seus planos de privatizar bens globais e
criar novos mercados para os serviços que a natureza fornece
gratuitamente. “Deste cavalo de Troia surgirão novos mecanismos de
mercado que permitirão ao setor financeiro obter maior controle sobre a
gestão dos bens globais”, alerta a organização.
Em lugar de
contribuir para o desenvolvimento sustentável e a justiça econômica,
esta “economia verde corporativa” levará à privatização da terra e da
natureza, as quais passarão a ser controladas por multinacionais que as
afastarão das comunidades que delas dependem, prevê o WDM. Scrivener não
acredita que o Fundo Verde para o Clima alcance o objetivo de reunir
US$ 100 bilhões até 2020. “A falta de fundos públicos se tornou a
desculpa dos países industrializados para justificar sua falta de
colaboração econômica para o clima ou sua tentativa de utilizar fundos
privados para cobrir o vazio”, afirmou.
“A realidade é que, apesar
da crise de dívida soberana na Europa ter aumentando a pressão sobre a
disponibilidade de fundos públicos, perdeu-se totalmente a oportunidade
de explorar novas fontes”, apontou Scrivener. Como exemplo mencionou que
a ideia de introduzir novos impostos em setores muito contaminantes,
como são a aviação e os transportes, citada na cúpula de Copenhague no
final de 2009, caiu no esquecimento, apesar de esse tipo de medida ser
suficiente para cobrir a falta de fundos públicos.
“Quando se fala
de escassez de fundos não devemos esquecer a dívida climática que o
mundo industrializado tem com as nações em desenvolvimento”, ressaltou
Scrivener. Esse dinheiro, que representaria uma ínfima proporção dos
orçamentos das nações ricas, “não deveria ser considerado um compromisso
discricionário e sua concessão deveria ser vista como prioritária”,
considerou.
“Infelizmente, é pouco provável que no Rio de Janeiro
seja anunciado um pacote com fundos públicos, e o rascunho preliminar do
documento final não estabelece nada significativo além da tradicional
assistência oficial ao desenvolvimento, de 0,7% do produto interno
bruto”, lamentou Scrivener. “É ruim, mas creio que a principal batalha
na cúpula girará em torno dos princípios para definir uma nova economia
verde”, acrescentou.
A atual crise econômica deveria servir de
lição para os governos sobre a inerente instabilidade, a falta de
sustentabilidade de nosso sistema econômico e as razões pelas quais deve
ser substituído. No entanto, os governos se concentram em regressar a
um crescimento econômico que não é sustentável, e inclusive estudam
destinar um valor monetário à natureza, o que poderia estender a
influência dos instáveis mercados financeiros sobre o meio ambiente.
A
crise também faz os governos não darem importância aos grandes desafios
que representam a mudança climática, a redução da pobreza e a
degradação ambiental. “Vemos que isso acontece em diferentes âmbitos
como a falta de ambição do rascunho do documento final da Rio+20”,
acrescentou Scrivener. Quanto à mudança climática, essa mentalidade
ficou demonstrada com a retirada de Canadá, Japão e Rússia do Protocolo
de Kyoto, bem como pela tentativa de considerar o gás natural como uma
fonte de energia barata que emite pouco dióxido de carbono.
Fonte: Envolverde/IPS
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