Fuvest e Enem não são sinônimos de educação. Tampouco o Ensino Médio o
é. Em tempo de crescimento econômico e crise de mão de obra
qualificada, uma onda de inconsciente coletivo costuma apontar essa
etapa como a única chave para a formação completa de cidadãos e
trabalhadores adultos – “felizes e bem sucedidos”.
Não é tarde
lembrar que os mais recentes estudos da neurociência apontam para o
período de zero a cinco anos como o mais importante na formação
cognitiva; é justamente nessa etapa que cerca de noventa por cento da
complexa rede neuronal é formada. A pergunta que paira no ar, esquecida
às vésperas dos vestibulares é: será essa a gestão do MEC que vai
depositar na Educação Infantil a importância merecida?
Alguns
estados norte-americanos recentemente reduziram o investimento na
chamada educação dos primeiros anos (ou da primeira infância) e sofreram
as consequências. Em Long Island, por exemplo, de acordo com o último
censo, há apenas metade das vagas necessárias em escolas públicas de
educação infantil, o que faz com que os moradores gastem dinheiro que
muitas vezes não têm nas instituições privadas – aumentado o
endividamento.
Já o Havaí, terra natal do presidente Barack Obama,
foi ambicioso e inteligente ao tecer políticas públicas. Um censo
pré-natal é aplicado anualmente à população do arquipélago. Os pais,
antes mesmo de terem dado à luz, se reúnem nas comunidades, com governos
locais, para pensar a educação dos filhos nos próximos anos e projetam
como serão as classes em 12 ou 13 anos. A prática é reconhecida como
“educação pré-natal”.
O Canadá já deixou há tempos de chamar as
professoras de “tias”. A formação dessas profissionais é a mais
dispendiosa dentre todas as carreiras daquele país. O governo acredita
no óbvio: crianças bem desenvolvidas ajudam futuramente no aprendizado
de toda a classe. Uma classe com alunos bem formados acelera e sofistica
o aprendizado, alavancando assim as marcas nacionais do próprio Ensino
Médio.
Para avaliar como anda o desenvolvimento cognitivo das
crianças e projetar políticas públicas futuras , a região canadense da
British Columbia desenvolveu um indicador denominado Early Development Instrument. Trata-se de um questionário elaborado por universidades, aplicado somente a profissionais que tem intimidade com as crianças.
O
mais complexo é que essa não é meramente uma questão escolar, e sim uma
questão que tangencia comunidade, família e também escola. Nesse
sentido, a organização não governamental Early Year Institute
tem sido reconhecida internacionalmente por estimular brincadeiras,
atividades e outras práticas em comunidades, bem como a troca de
experiências.
O Brasil brigou para encaixar as creches na criação
do Fundeb, mas os recursos da União e sua capacidade de atuação na
primeira infância são pífios. A questão da municipalização deixou ainda
mais confuso e corrupto os repasses de verba.
Mas a principal
falta de atenção a essa questão (que hoje é pública, social e privada)
vem da vocação “terceiro mundista” que as políticas públicas ainda
carregam no seu bojo: estamos descobrindo as “novidades” sempre com dez
anos de atraso em relação ao resto do mundo. Os indicadores estão
começando a se firmar e diretrizes políticas ainda não tem solidez para a
educação dessa faixa etária. Mal sabemos quem são as nossas crianças,
ou como elas se desenvolvem.
Nesse ritmo, não haverá Ensino Médio capaz de acelerar nossos índices de escolarização e desenvolvimento.
Fonte: Portal Aprendiz.
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