Nessa
semana antes do Natal, muita gente se pergunta que presente pode dar às pessoas
e tem também quem se sinta responsável por elaborar alguma mensagem ou palavra
a dizer no começo das festas de confraternização comuns nessa época do ano.
Aqui
deixo minhas sugestões. Ao enfrentar a agressividade do trânsito em nossas
grandes cidades, ao testemunhar a violência urbana de cada dia e ver ou ouvir
os noticiários restritos a crimes e escândalos nacionais, alguém mais sensível
pode concluir: este mundo está perdido. Nesse contexto, os enfeites de Natal,
ao invés de mostrar o colorido da festa, parecem ressaltar o vermelho do
sangue. As melodias de Papai Noel podem acirrar ainda mais a voracidade do
comércio. E, nesse contexto, fica mais difícil ainda escolher um significativo
presente de Natal. Se eu pudesse, proporia que cada um oferecesse a si mesmo/a
e às pessoas que ama lentes novas e diferentes para ver o mundo.
Nesses
dias, os organismos encarregados da segurança no Recife espalharam pelo centro
da cidade várias câmaras de vídeo para filmar atos de violência e culpar os
responsáveis. De fato, conseguiram captar flagrantes de assaltos, roubos e
outros incidentes de violência cotidiana. No entanto, depois do primeiro dia, a
equipe encarregada de rever as imagens gravadas se espantou. Constatou uma
coisa surpreendente. De fato, além dos incidentes de agressões que, de fato,
ocorreram, as imagens mostravam cenas comoventes de pessoas anônimas que
ajudavam as outras. Anciãos apoiados para atravessar uma rua. Jovens se
dispunham a carregar pacotes de pessoas cansadas. E muitas outras amostras de
solidariedade humana. O mais surpreendente foi que as cenas de bondade e
solidariedade das pessoas eram muito mais numerosas do que os incidentes de
violência. A equipe especializada em investigar crimes precisou mudar sua
perspectiva de visão para constatar o que não esperava ver e concluir o
contrário daquilo que era a sua expectativa.
Aquelas pessoas descobriram que o
Brasil não está tão mal, nem as pessoas são tão más, como diariamente as redes
de televisão e grande parte da imprensa comercial fazem questão de mostrar. Ao
contrário, há amor e solidariedade, escondidos em cada coração humano e doidos
para ser desenterrados. Mesmo que da manhã à noite, sejamos atordoados por
programas que mostram o mundo se acabando com muitos crimes hediondos, defendem
a violência policial e insinuam a urgência da pena de morte, é possível ver
algo diferente e apresentar o reverso da história. Esse pode ser o melhor
presente a ser intercambiado nesse Natal. Sua Santidade, o Dalai Lama percorre
o mundo inteiro para propagar que em cada pessoa existe uma semente de
compaixão. Segundo ele, a tarefa essencial é ajudar as pessoas a fazer
desabrochar e cultivar essa planta em sua vida. Atualmente, o papa Francisco
insiste em que redescubramos a alegria da boa notícia de que Deus tem para o
mundo um projeto de amor. Jesus nos revelou: Deus assumiu a condição humana
para fazer com todo ser humano possa se tornar divino. Essa é a mensagem do
Natal. Se assimilarmos isso e espalharmos essa notícia, podemos contribuir para
um renascimento de esperança. O poeta francês Charles Peguy afirmava: "A
esperança é uma menina. Ela é encarregada de sempre recriar, onde o hábito é
acomodar-se. Ela semeia inícios, onde a tendência é propagar a decadência. Ela
suscita vida nova, onde o ritual é a rotina”. Que o nosso presente de Natal, a
nós mesmos e uns para os outros seja essa esperança, que como cantava a canção,
é equilibrista, mas sempre capaz de, sem se machucar, andar na corda bamba de
sobrinha e ensaiar assim o mundo novo que a cada dia renasce a partir do amor e
da solidariedade humana.
Fonte: Adital
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