da Agência Brasil
A reforma da estrutura do Estado por meio da elaboração e
consolidação de políticas públicas setoriais e articuladas são medidas
fundamentais para a superação da desigualdade no Brasil, afirmaram hoje
(12) os participantes do seminário Paradigmas de Redução de Desigualdade
com Base em Direitos Humanos, no Fórum Mundial de Direitos Humanos
(FMDH). A educação também foi citada como uma área estratégica para o
respeito aos direitos humanos e a redução de desequilíbrios econômicos e
sociais.
“O Estado atual não é compatível com o salto necessário para o
enfrentamento da desigualdade e das violações em direitos humanos. A
articulação de políticas públicas é necessária no século 21 para que
haja a formação de novas maiorias políticas capazes de usar o Estado em
prol de uma sociedade superior”, explicou o ex-presidente do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e atual presidente da Fundação
Perseu Abramo, Márcio Pochmann.
Para ele, a desconstrução das políticas públicas do Estado foi
resultado do paradigma neoliberal, que entendia que os Estados eram um
problema e que a solução eram os mercados. “Houve um retrocesso no
processo de intervenção sobre a desigualdade. O resultado foi mais
desigualdade e mais pobreza”, avaliou.
Segundo Pochmann, entre os desafios mais importantes para que se
inicie um processo de redução das desigualdades são a educação e a
disseminação de conhecimentos globais – em contraste ao conhecimento
específico, que é mais valorizado atualmente.
“O que produzimos na ciência hoje não nos permite atuar sobre as
causas, mas sobre as consequências. Teorias pós-modernas fragmentam a
realidade e valorizam o conhecimento dos especialistas, que sabem cada
vez mais sobre cada vez menos. É preciso construir um novo mundo com uma
visão sobre a totalidade e não sobre as partes”, explicou.
De acordo com o consultor de órgãos das Nações Unidas (ONU) e
ex-economista do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), Flávio Comim, é um equívoco acreditar que somente as pessoas que
sofrem com a discriminação e a desigualdade são as que conhecem a
causa. Isso, para ele, pode ser superado por meio da educação.
“O ponto de partida é válido, mas, na realidade, é essa superação pela educação, que é a possibilidade”, disse Comim.
O ex-integrante da ordem franciscana e um dos expoentes da Teologia
da Libertação no Brasil, Leonardo Boff, era esperado para participar do
seminário sobre direitos humanos e vulnerabilidades. Por razões de
saúde, Boff não pode viajar a Brasília.
O teólogo enviou uma mensagem aos participantes do fórum, em que
pediu respeito e reconhecimento ao valor do próximo. “Tudo o que merece
viver, merece existir. Somos filhos e filhas da terra. Por isso, é tão
importante o cuidado com o outro para que todos mantenhamos vivas essas
chamas dos direitos humanos”, disse Leonardo Boff, na mensagem.
Ainda hoje, no fórum, a presidenta Dilma Rousseff irá participar da cerimônia de entrega do Prêmio Direitos Humanos, em que 23 pessoas e instituições serão contempladas.
O FMDH começou anteontem (10) e irá até amanhã (13), quando ainda
serão debatidos temas como a transversalidade dos direitos humanos, o
enfrentamento da violência e o desenvolvimento da cultura em direitos
humanos. Nesses dias, o evento promoveu conferências, debates temáticos e
atividades com a presença de autoridades, intelectuais e profissionais
reconhecidos internacionalmente. O encontro teve mais de 10 mil
inscrições.
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