quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Um elo de resistência na Amazônia brasileira

Dezenas de povos indígenas e tradicionais do Brasil se uniram na semana de Mobilização Nacional Indígena, realizada e Brasília no começo de outubro. É a atualização da Aliança dos Povos da Floresta, um dos legados de Chico Mendes (©Tico Fonseca/Greenpeace). 

Há 25 anos, o Brasil perdia um dos maiores defensores de sua diversidade social e ambiental: Francisco Alves Mendes Filho foi assassinado covardemente em sua casa em Xapuri, no Acre, em 22 de dezembro de 1988. Chico Mendes, como é comumente conhecido, deixou um legado de sabedoria e persistência na luta pela preservação da floresta, que tem sido reproduzido por gerações no movimento socioambiental. Líder seringueiro e sindical, seu nome representa até hoje a resistência das comunidades que habitam a Amazônia ao avanço dos tratores que, no início dos anos 70, sob o comando do regime militar, atropelavam a mata e o que mais houvesse ao redor para trazer o suposto progresso àqueles rincões esquecidos.

Sua história se cruza com a de outras populações tradicionais amazônicas, como os ribeirinhos e povos indígenas, que também têm na floresta o seu sustento e fonte de sobrevivência. Com a chegada do ambicioso programa de obras e colonização do governo, estradas eram abertas no coração da floresta para dar passagem a novas frentes de “desenvolvimento” na Amazônia. Encobertos pela poeira e pelo rastro de destruição das maquinarias do Estado, as populações locais da região sentiram a necessidade urgente de unir forças para tentar salvar aquilo que lhes era mais precioso.

“Conheci o Chico quando ele estava peregrinando pelo mundo, indo pra fóruns fora do Brasil denunciar a destruição da Amazônia, as mazelas trazidas pela BR-163, insistindo que fossem criados mecanismos de consulta às comunidades, denunciando que tinham povos ainda em estado de isolamento, que seriam violentados e dizimados. Ele insistia que os povos da floresta precisavam ser ouvidos, não sublimados. Na época, as autoridades tratavam a Amazônia como se só houvesse floresta no caminho, sem seres humanos. Chico foi um pioneiro na Amazônia, antes dele não tinha ninguém levantando a bandeira dos direitos humanos relacionada à questão ambiental de maneira tão eficaz. A temática socioambiental se iniciou aí”, conta Ailton Krenak, ambientalista, líder indígena, ex-deputado federal e hoje coordenador da Rede Povos da Foresta.

À época, comunidades extrativistas, como os seringueiros do Acre e os castanheiros do Pará, enfrentaram inúmeros conflitos com grileiros, madeireiros e fazendeiros. Muitos perderam suas terras e pagaram com a própria vida o preço pela defesa da floresta. Foi na luta pela terra, pelos recursos naturais e seus usos diferenciados pelas comunidades tradicionais, que os povos da floresta foram se organizando e se aproximando.
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“Ele tinha uma visão muito ampla do planeta como um todo. Ele pensava em organizar os trabalhadores e percebeu que, mais do que isso, era preciso criar relacionamentos entre diversas comunidades de forma a transcender os sindicatos e criar as redes. Muito antes disso virar moda hoje, ele já juntava índios, seringueiros, ribeirinhos, intelectuais, cientistas, pesquisadores e achava que essa gente toda tinha algo em comum. Eu tenho muita saudade do meu amigo Chico Mendes e de suas ideias geniais”, lembra Krenak, saudoso.

Em 1980 foi fundada, por um grupo de lideranças locais indígenas, a União das Nações Indígenas. Somando a experiência de dezenas de conflitos em todo o país, a então chamada UNI se articulou com outros setores da sociedade civil para dar visibilidade às lutas locais, antes invisíveis e extremamente desiguais. Teve importante participação no avanço dos direitos indígenas conquistados na Constituição de 1988, além de ter sido precursora da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), que hoje representa 165 povos indígenas e 75 organizações regionais.

Em outubro de 1985, os sindicatos de seringueiros do Acre convocaram o primeiro encontro nacional, em Brasília, reunindo representantes de comunidades extrativistas de cinco estados da Amazônia. Na ocasião, foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

Dois anos depois, em 1987, Ailton Krenak, então coordenador da UNI, Jaime da Silva Araújo, o primeiro presidente do CNS, e Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, fizeram um evento público em São Paulo para discutir a proposta de criação da Aliança dos Povos da Floresta, enfocando os paralelos entre as diferentes experiências e lutas, e a importância de construir uma aliança efetiva.

Mas foi apenas depois da morte de Chico Mendes que a Aliança foi oficialmente lançada, durante o Primeiro Encontro Nacional dos Povos da Floresta e Segundo Encontro Nacional dos Seringueiros, em fevereiro de 1989, em Rio Branco, no Acre.

Índios e seringueiros souberam colocar seus antagonismos históricos de lado para lutar com eficiência contra as ameaças externas. Dessa forma, a Aliança ganhou força e deu respaldo a dezenas de colaborações em conflitos com grileiros e madeireiros. A partir dela foram criadas as primeiras Reservas Extrativistas, demarcadas muitas Terras Indígenas e instituído o Parque Nacional da Serra do Divisor. A Aliança também liderou a mobilização que resultou na criação do Grupo de Trabalho da Amazônia (GTA), que atualmente conta com 623 organizações. Alguns dizem que ela foi desarticulada anos depois. Há quem discorde.
“Acho que a Aliança continua existindo até hoje. A Mobilização Nacional Indígena foi um exemplo concreto disso. Quando juntamos na mesma luta vários povos tradicionais, quilombolas, ribeirinhos; quando empatamos Belo Monte ou outros empreendimentos que assolam a vida das comunidades e a biodiversidade, isso é uma atualização constante da Aliança. As pessoas querem datar tudo, acham que a Aliança só existiu quando tínhamos escritório físico conjunto. Continuamos compartilhando agendas hoje, só que em outros campos, como nas redes sociais. Hoje as ações são feitas em territórios diferentes, novos. Enquanto houver gente reagindo à destruição da floresta, a Aliança estará viva”, conclui Krenak.

Um quarto de século depois, os movimentos socioambientais percebem a mesma necessidade de união, dada a constante e acirrada ameaça aos direitos eterritórios indígenas e de populações tradicionais vinda da parte mais atrasada do agronegócio brasileiro, e aos consequentes conflitos, violência e morte no campo.
O histórico da Aliança dos Povos da Floresta serve para mostrar que, quando o objetivo é comum, as desavenças se dissipam. Vivo fosse, Chico Mendes certamente não abandonaria seus companheiros de luta contra a afronta daqueles que dominam os latifúndios – muitas vezes improdutivos – no país e priorizam o lucro pessoal em detrimento ao bem maior da nação. Que os 25 anos sem Chico não nos deixem esquecer sua vida e seu legado, revigorem nossos ânimos e aumentem a força da nossa resistência.

Fonte: greenpeace.org.br


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