da Agência Brasil
A Praça do Conhecimento, espaço de inclusão social e
digital da comunidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, na zona
norte da capital fluminense, foi o local escolhido para a apresentação
hoje (22) do Portinari para Todos, proposta do novo portal do Projeto
Portinari (www.portinari.org.br).
O trabalho é resultado de 33 anos de pesquisa. Foi feito um
levantamento completo e uma catalogação minuciosa da obra do pintor
Candido Portinari, que está 95% indisponível ao público em coleções
privadas. A coordenadora-geral do portal, Maria Duarte, disse que o
projeto conseguiu localizar mais de 5 mil obras, entre pinturas,
gravuras e desenhos. E agora está tudo disponível para consulta na
internet.
“A gente brinca que começou a trabalhar no projeto há 33 anos. Mas,
efetivamente, ele começou a ser idealizado há dez anos, quando a gente
estava organizando a celebração do centenário de Portinari. Infelizmente
na época a gente não conseguiu levantar os recursos para fazer, já que
não é um projeto simplesmente de web, de interface para o
público em geral. Ele tem uma parte de base muito importante, muito
complexa que fala diretamente com o acervo do Projeto Portinari.”
O acervo conta com cerca de 30 mil itens, entre obras, cartas,
fotografias e depoimentos relacionados ao pintor e também a
personalidades que conviveu com Portinari como Oscar Niemeyer, Carlos
Drummond de Andrade, Luís Carlos Prestes e Afonso Arinos. De acordo com
Maria Duarte, a ideia é que o visitante do portal tenha uma experiência
de imersão na vida e na obra do pintor, em um conceito novo de
disponibilização de conteúdo na web.
“Eu não estou falando de um portal que simplesmente é um formulário que
você preenche para acessar o acervo de um artista. Ele traz uma nova
premissa, de experiência sobre o acervo. Eu quero que o usuário mergulhe
nesse acervo, que ele se perca nesse acervo.”
A capa do portal traz um mosaico com a obra completa de Portinari. Além
do menu tradicional, com informações institucionais, biografia e
créditos, é possível fazer buscas no acervo usando filtros como tema das
obras, suporte, técnica ou mesmo cor e busca por palavras aleatórias.
“O portal traz o lado lúdico. Se você chama uma criança e fala 'vamos
olhar um acervo', ela vai dizer 'prefiro jogar futebol'. Então, se ela
gosta de futebol, vamos buscar aqui 'futebol', e vai aparecer um mosaico
com obras de Portinari sobre futebol”, explicou.
De acordo com ela, o projeto do portal é único. “A gente fez uma busca e não há no mundo um site
de um artista, sobre a obra de um artista, tão complexo, tão
estruturado como o que a gente está lançando. A gente foi muito feliz em
ousar, em sair do tradicional de pesquisa de acervo e pensar de que
forma apresentar esse acervo ao grande público”.
O menino Gabriel Ramos de Oliveira, de 10 anos, gostou do portal,
apesar de não conhecer a obra de Portinari. “É legal, mas os quadros são
meio esquisitos”, disse.
A técnica de enfermagem Jurema da Conceição já tinha visto uma
exposição do artista, mas com o portal gostou de conhecer outros
quadros. “Achei ele incrível, porque conseguiu refletir a nossa
realidade, lá no passado, mas contemporânea hoje. Reflete muito as
características do povo e a personalidade de um homem muito à frente da
sua época, porque o que pintou ontem, não mudou, continua atual.”
Maria Duarte lembra que Portinari foi quem mais pintou o seu próprio
país. “É um pintor que deixou para a gente mais de 5 mil obras sobre o
Brasil, sobre a nossa identidade, sobre a nossa cultura. Eu acho que
conhecer Portinari é se conhecer, é conhecer o nosso país, o nosso
Brasil”.
Candido Portinari nasceu em 1903, em uma fazenda de café perto de
Brodowski, em São Paulo, filho de imigrantes italianos de origem
humilde. Começou a pintar aos 9 anos de idade e, aos 15, se mudou para o
Rio de Janeiro e se matriculou na Escola Nacional de Belas-Artes. Em
1928, ganhou como prêmio uma viagem à Europa, onde decidiu pintar sua
terra natal.
O pintor participou ativamente da elite intelectual brasileira na época
em houve uma grande mudança na atitude cultural, quando a estética
passou a refletir os problemas do mundo e a realidade do país. Na década
de 1950, pintou os painéis Guerra e Paz para a seda da Organização das Nações Unidas (ONU). Portinari morreu em 1962, em consequência de intoxicação por tintas.
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