terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Quaresma: que eu procure mais amar, que ser amado

Por Leonardo Boff

Sentir-se amado é mais gratificante que amar, pois basta apenas acolher o amor gratuito do outro, sem ser necessário conquistá-lo ou dar-lhe provas de amor. Sentir-se amado é sentir-se importante e precioso para alguém. Aumenta a auto-estima e reforça o sentido de ser.

De repente, sei que estou no coração e na mente de outra pessoa. Sou para ela um valor inestimável. Acompanha-me em cada gesto, procura saber cada pormenor da minha história, valoriza cada palavra minha e intui amorosamente cada intenção, por mais secreta que seja.

Aquele que ama vive num estado de consciência alterado. Perde o interesse por si mesmo e entrega-se a forças que o arrastam irrefreavelmente na direcção da pessoa amada. Esta aparece aos seus olhos como única e diferente de todas as demais no Universo. Experimenta um estado de arrebatamento e de potencialização de sentido que, em função da pessoa amada, reorganiza toda a vida.

Todos querem ser amados; pois todos anseiam ser únicos para alguém. A frase mais triste que ouvi foi de uma jovem assistente social, mulher simples do povo, sem grandes dotes de beleza, segundo as pobres convenções da nossa cultura material: "Eu nunca fui amada; nunca fui interessante para ninguém; ninguém até hoje olhou para mim." E os seus olhos traíam uma tristeza infinita. Uma mágoa profunda com a vida ingrata e cruel pesava em cada uma das suas palavras. O Universo parecia ter desabado sobre ela.

Sem amor, a vida perde significado e densidade. Tudo fica irrelevante e sem valor. É fundamental para o brilho da existência sentirmo-nos amados e acolhidos com enternecimento por aqueles que nos cercam. Por detrás do ateísmo, do gnosticismo e do indiferentismo talvez esteja essa experiência devastadora: a incapacidade de alguém se sentir acolhido como num útero, aceite como no seio de uma família e amado incondicionalmente por uma pessoa.

Porque temos esta necessidade inarredável de sermos amados? Porque nós, seres humanos, desde que nascemos mostramos a tendência para nos unirmos a algo que nos realize, a algo que nos transcenda. As ciências da Terra dizem que esse algo representa a acção da seta do tempo e do impulso da evolução a empurrar-nos sempre para a frente e para cima, de convergência em convergência, na direcção de uma culminância suprema. Os especialistas da psique humana aventam a ideia de que esse desejo de união representa a memória ancestral da nossa vida no útero materno. As religiões ensinam que esse algo é a ânsia por Deus como Alfa e Omega da nossa vida. Seja como for, o ser humano, ao sentir-se amado, vive a experiência de ter resgatado o paraíso terrestre ou ter chegado à Terra da Promissão.

Que significa procurar mais amar, que ser amado? É o convite para darmos o salto por cima de nós mesmos, para podermos propiciar amor ao outro e aos outros. Ao amar o outro, queremos que ele experimente uma absoluta realização - ser amado - e se sinta existencialmente o centro afectivo do nosso universo. Pois é exactamente essa a experiência que o amor nos permite fazer.

Amar mais do que ser amado é, então, a força de sairmos de nós mesmos e de nos centrarmos no outro por causa do outro - dando-lhe valor, cuidado, ternura, cordialidade e convivialidade. São Francisco conseguiu amar os leprosos e todas as criaturas como irmãos e irmãs muito queridos. Por isso o seu universo é cheio de unção, enternecimento e respeito, porque permite que todos se sintam amados.

Esta atitude de um amor maior pode resgatar a humanidade ameaçada e salvar a vida do planeta Terra. Quem tem este tipo de amor superabundante conquista tudo: o próprio coração, a salvação eterna e Deus mesmo.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais amar, que ser amor. Que eu acolha com generosidade e alegria o amor que me é dado, mas que me empenhe sobre tudo em fazer com que os que me cercam se sintam amados. Fazei que nos sintamos amados por Vós para experimentarmos a suprema felicidade concedida nesta vida. Amém.


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