Deauville, França, 30/5/2011 – A cúpula do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia) terminou no dia 27 com pouquíssimos compromissos concretos, segundo organizações não governamentais. A Oxfam classificou o encontro de “Sim-Não-Ville”, brincando com o nome da localidade francesa de Deauville onde se reuniram os chefes de Estado e de governo, e afirmou que estes “perdem credibilidade por não demonstrarem uma verdadeira decisão”.
“O G-8 ainda não responde à realidade do veredito oficial da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre seus números referentes à ajuda, os quais mostram que, da promessa de US$ 50 bilhões, foram efetivados apenas US$ 19 bilhões”, afirmou a Oxfam em uma declaração.
“Quando se trata de dar passos básicos e práticos, os líderes do G-8 se escondem”, disse Samuel A. Worthington, presidente da InterAction, a maior coalizão de organizações da sociedade civil internacionais, com sede nos Estados Unidos. Alguns grupos disseram que a cúpula não encarou como deveria os temas da pobreza e dos direitos humanos.
Matt Davis, chefe de políticas da ATD Fourth World, disse à IPS que seu grupo está decepcionado porque “não houve nenhum reconhecimento de que a pobreza é um tema, quando uma em cada 12 pessoas vive com graves privações materiais na Europa. É um número inaceitável”.
Os líderes das maiores economias do mundo se concentraram nos últimos acontecimentos no mundo árabe, em suas relações com a África, na segurança nuclear, internet, mudanças climáticas e economia mundial. Apoiaram decididamente os movimentos democráticos de Egito e Tunísia e exortaram os regimes da Líbia e da Síria a acabarem com a violenta repressão contra opositores.
“À luz dos últimos acontecimentos no Oriente Médio, Norte da África e na África subsaariana, renovamos nosso compromisso com o apoio às reformas democráticas ao redor do mundo e com respostas às aspirações de liberdade, incluindo a de religião, e a potencialização em especial de mulheres e jovens”, afirmaram os governantes na declaração final da reunião. “Exigimos o imediato fim do uso da força por parte das autoridades do regime líbio, bem como o fim de toda provocação, hostilidade e violência contra a população civil”, prossegue o texto.
Além disso, a declaração final do G-8 diz que o líder líbio Muammar Gadafi “não cumpriu sua responsabilidade de proteger a população e perdeu legitimidade. Não tem futuro em uma Líbia livre e democrática”. Ao falar com jornalistas ao fim do encontro, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, reiterou sua posição de que não há possibilidade de mediação com Gadafi. “O senhor Gadafi deve partir”, afirmou Sarkozy. “O que podemos discutir é como sairá”, acrescentou. O presidente francês disse que planeja visitar a base rebelde na cidade líbia de Bengasi, talvez em uma viagem conjunta com líderes britânicos.
Para ajudar a promover a democracia, os líderes do G-8 também anunciaram um pacote de ajuda no valor de US$ 40 bilhões a países do Norte da África, particularmente Tunísia e Egito, embora outros Estados também possam ser beneficiados no futuro. Por sua vez, o ministro das Finanças da Tunísia, Jelloul Ayed, afirmou à imprensa que seu país “está satisfeito com a clara decisão de ajudar”, mas ressaltou que a promessa do G-8 não significa um acordo concreto. Já existe um acordo para um pacote de US$ 1,3 bilhão do Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento e de outras instituições, acrescentou.
Ayed também destacou que a prioridade de seu país é criar empregos para milhares de pessoas. Em uma crítica implícita à forma como a Europa trata os refugiados tunisianos, alguns dos quais vivem na intempérie em praças de Paris, o ministro afirmou à IPS que “a Tunísia mostrou sua civilidade” pela forma como trata os refugiados, particularmente os procedentes da Líbia.
Algumas organizações expressaram decepção porque o G-8 não trabalhou de forma mais estreita com a sociedade civil para alcançar as metas de melhorar a vida dos habitantes do mundo árabe e da África subsaariana. “Com base nas escolhas do movimento popular no Norte da África, seria normal ter realizado esta cúpula não apenas com ministros, mas também com estruturas da revolução que estão preparando a democracia do futuro”, disse Nathalie Dujat, porta-voz da Coordination Sud, coalizão de organizações francesas. “Durante anos a sociedade civil tenta conseguir um lugar na cúpula, e isto é muito difícil”, acrescentou.
Fonte: www.envolverde.com.br
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