A destinação inteligente do lixo úmido já é realidade em várias
empresas do Brasil. Uma delas consegue faturamento médio de R$ 100 mil
por mês.
Lixo é um negócio lucrativo, e muito positivo para o
meio ambiente, desde que tratado corretamente. O que se joga fora de
comida por ano no Brasil daria para alimentar 30 milhões de pessoas. É a
população do Iraque.
Cada um de nós gera em média um quilo de
lixo por dia e mais da metade disso é matéria orgânica. São 22 milhões
de toneladas de alimentos que vão parar na lixeira. Resíduos que se
transformam em uma bomba-relógio ambiental na maioria das cidades
brasileiras.
Abandonados a céu aberto, os resíduos orgânicos vão
parar nos lixões, viram chorume, que contamina as águas subterrâneas.
Gás metano, que agrava o efeito estufa. Atraem ratos, moscas e baratas,
que transmitem doenças.
É nesses locais que milhares de pessoas
acabam vivendo, na tentativa arriscada de ganhar a vida, mas há quem já
enxergue no lixo uma maneira correta de trabalhar e excelentes
oportunidades de negócio. A destinação inteligente do lixo úmido já é
realidade em várias empresas do Brasil.
De restinho em restinho
chega-se a cinco toneladas de lixo por mês numa fábrica de produtos de
beleza. “Antes, a gente desenhava o procedimento mandando para aterro e
hoje a gente utiliza nosso parceiro para fazer a compostagem, então é um
ganho para sociedade”, fala o diretor da L’Oreal Brasil, Rogério
Barbosa.
Numa outra fábrica de equipamentos, os recicláveis são
separados num galpão e mais recentemente, o lixo orgânico também passou a
ter um destino mais nobre. Sem gastar um centavo a mais. “A gente
consegue evitar que vá para aterros sanitários, cerca de três toneladas
de resíduos orgânicos por mês”, fala o gerente de fabricação de
equipamentos da White Martins, Giovani Santini Campos.
Acompanhamos
a rotina de uma das primeiras empresas do Brasil a transformar lixo
orgânico em negócio lucrativo. O material é levado para um imenso galpão
em Magé, na região metropolitana do Rio, onde acontece a compostagem.
“A
compostagem de forma natural duraria em torno de cinco a seis meses.
Com um líquido, que funciona como catalisador do processo, a gente
acelera isso para em média 40 dias”, explica o diretor comercial da Vide
Verde, Marcos Rangel.
Outra vantagem desse sistema é que ele
reduz drasticamente as emissões de gases de efeito estufa, que provocam o
aquecimento global. Nos aterros de lixo, gera-se 400 gramas de gás para
cada quilo de lixo orgânico. Nas composteiras, essa emissão fica em
torno de quatro gramas, por quilo, cem vezes menos.
O que antes
era resto de comida vira material seco, sem cheiro ou riscos para a
saúde. Misturado à terra preta, o composto é ensacado para então se
transformar em um produto cobiçado no mercado de jardinagem.
Quem
quiser pode produzir adubo orgânico dentro de casa. Em pelo menos cinco
mil domicílios brasileiros, a Minhocasa é o destino final do lixo
orgânico.
“O resíduo orgânico que a gente pode colocar dentro
desse minhocário pode ser desde as cascas de frutas e verduras, os
talos, como também o alimento que já foi cozido como sobra de arroz,
feijão, macarrão, casca de ovo, borra de café, pão embolorado, tudo isso
é bem-vindo”, conta o sócio fundador da Minhocasa, César Cassab Danna.
O
sistema inspirado num modelo de política pública adotada na Austrália
funciona até em apartamentos pequenos. Em caixas fechadas, que não
exalam mau cheiro, as minhocas realizam de graça a conversão do lixo em
adubo.
André Trigueiro é jornalista com
pós-graduação em Gestão Ambiental pela Coppe-UFRJ onde hoje leciona a
disciplina Geopolítica Ambiental, professor e criador do curso de
Jornalismo Ambiental da PUC-RJ, autor do livro Mundo Sustentável – Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, coordenador editorial e um dos autores dos livros Meio Ambiente no Século XXI, e Espiritismo e Ecologia,
lançado na Bienal Internacional do Livro, no Rio, pela Editora FEB, em
2009.
É apresentador do Jornal das Dez e editor-chefe do programa
Cidades e Soluções, da Globo News. É também comentarista da Rádio CBN e
colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro.
Fonte: Mundo Sustentável.
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