O mundo e o Brasil estão se urbanizando. Mais de metade da população mundial já vive em cidades. O Brasil em 20 anos será mais urbanizado que muito país desenvolvido. A urbanização acelerada e desordenada traz problemas: emissões de gases estufa, poluição, problemas de tráfego, má qualidade do ar e da água, violência. Mas, bem pensada, ela permite soluções em escala. A adaptação das cidades a um modelo sustentável pode ser a alavanca de um processo de desenvolvimento local de qualidade, que mobiliza investimentos, gera empregos e renda e bem-estar.
Para chegar ao novo modelo de desenvolvimento local é preciso repensar as cidades e redesenhá-las ao logo de várias linhas. Aqui destaco algumas delas, hoje no centro do movimento pelas cidades sustentáveis.
Mudar todo o sistema de mobilidade, restringindo o espaço dos carros. Trocar estacionamentos por parques, áreas de lazer e esporte. Melhorar a cobertura e eficiência do transporte público sustentável – metrôs, trens, bondes (tramways), ônibus elétricos – no caso dos bondes e ônibus, linhas mais bem planejadas, para reduzir o número de veículos na rua. Essa reestruturação da mobilidade permite fazer calçadas mais largas, mais praças, áreas de lazer e esportes, mais ciclovias, com maior segurança. As bicicletas podem ser o principal meio de transporte a pequenas e médias distâncias.
Reprogramar os bairros, tornando-os menores e mais autosuficientes, de forma que as pessoas encontrem praticamente todos os serviços e mercadorias a distâncias que podem ser percorridas a pé ou de bicicleta. Linhas circulares locais de bonde atenderiam os moradores nas distâncias mais longas e aqueles que não têm autonomia de locomoção. A descentralização das atividades de serviços cria vários centros, de forma que muitas pessoas passam a trabalhar perto de onde moram.
Adaptar as cidades à mudança climática, eliminando ou minimizando o risco de desastres por deslizamentos, enchentes, elevação do nível do mar, ventanias fortes, tornados. Matas ciliares e áreas de risco livres de construções e reflorestadas ou recompostas, além de reduzir os riscos de desastres, contribuem para alterar o microclima. Disseminar a cobertura arbórea nas ruas, adotar telhados brancos, verdes ou com placas solares para eliminar as ilhas de calor. As cidades cortaram as árvores. Agora têm que replantá-las.
Estudo recente http://www.rdmag.com/News/2011/07/Energy-Photovoltaics-Engineering-Study-determines-the-cooling-effect-of-solar-panels/ mostrou, por exemplo, que placas solares para geração de eletricidade cobrindo os telhados de casas e prédios refrescam essas construções no verão e oferecem um sistema limpo e eficiente de aquecimento no inverno. Hortas urbanas, quase todas orgânicas, estão sendo implantadas em bairros e condomínios de várias cidades com sucesso, muitas formando telhados verdes, oferecendo localmente verduras, legumes e frutas mais frescas, com mais qualidade e sem custo econômico e ambiental de transporte. A compostagem feita nos locais auxilia no processamento do lixo e na produção de adubo. À medida que os resíduos vegetais e animais passem a vir predominantemente de produção agrícola sustentável, sem hormônios e químicos, o adubo vai se tornando mais orgânico e mais saudável.
Essas cidades com vários centros se estruturam como sistemas altamente integrados, redes, de unidades autosuficientes que se assemelham a pequenas cidades, mais administráveis, mais seguras e mais sustentáveis. A tendência é que essas unidades tenham pelo menos um “jornal hiperlocal”, provavelmente mais de um e digitais, cobrindo a vida local e permitindo aos cidadãos acompanhar com transparência o que se passa em seu bairro. Essa é uma tendência crescente no EUA, começa a chegar na Europa e no Canadá.
A reprogramação das cidades pode ser vista como custo – quando é mal feita, envolve corrupção, não mobiliza os cidadãos e empresas – ou como oportunidade de desenvolvimento local, quando toda a cidade se mobiliza para se repensar, redesenhar, reformar e reconstruir.
Fonte:www.ecopolitica.com.br
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