sábado, 23 de novembro de 2013

A hora de criar trincheiras cidadãs


Do ponto de vista da cidadania, as grandes mobilizações e passeatas de junho último, que tomaram as ruas do Brasil, foram um despertar de esperanças. A letargia do país foi sacudida para valer e os poderes constituídos redescobriram que estavam distantes das aspirações mais legítimas por direitos e dignidade, de respeito à cidadania não só em seu poder constituinte como seu poder instituinte, que remete ao direito dos cidadãos de criar, modificar e revogar instituições. Basta é basta! Foi o que revelaram as ruas. Não dá para atender exigências da FIFA e as ganâncias de empresas construtoras, gastando bilhões, e não garantir o básico em transportes, educação e saúde, alegando falta de recursos. Também não dá mais para aceitar representantes mais preocupados com o seu próprio bolso do que em fazer jus ao mandato que lhes foi dado pelo voto de todos e todas nós. A cidadania levantou a voz, aos gritos, e destampou as contradições que permeiam a nossa jovem democracia.

Mas, passados alguns meses, o que está se passando na conjuntura? Por que as agendas cidadãs não avançam e tudo volta ao seu lugar, como se nada tivesse acontecido, como se a força das mensagens das mobilizações de junho tivessem evaporado? No momento, de certo mesmo é só a sensação que muita coisa está dando errado. Logo entre nós, o país festejado pelos seus avanços da primeira década do século XXI!
Parece que a fumaça das explosões cidadãs de junho ficaram no ar e tudo mundo foi perdendo um pouco de perspectiva. As próprias mobilizações perderam muito de seu foco e de pontos aglutinadores. Muita gente continuou a se manifestar nas ruas, mas … para onde vai isto tudo? A presença dos “black blocs”, no fim das passeatas, degenerou em violência e passou a afastar muita gente destas festas de cidadania e civismo. A nossa truculenta polícia, reprimindo e batendo, redescobriu métodos e leis do tempo da ditadura para investir contra os que ela caracterizou como baderneiros, vândalos, organizações criminosas. Mesmo nas festejadas UPPs do Rio de Janeiro, a polícia continua a mesma: força de repressão que é para proteger a gente do asfalto dos pobres favelados que teimam em se dizer parte da cidade e em reivindicar o direito de ter direitos. Aliás, a violência com assassinatos no Brasil voltou a crescer mais do que em países em guerra, mas para nós parece ainda uma expressão de normalidade. Um absurdo em si mesmo, antidemocrático e injustificável!

Mas é na arena oficial da política – as instituições do Executivo, o Congresso e os partidos, o Judiciário, com uma forte dose de radicalização da mídia das classes dominantes, um monocórdio barulhento ele mesmo – que a fumaça ganhou consistência e a visibilidade da conjuntura ficou quase nula. A gente vê pouca coisa clara no momento. As agendas, que pareciam plantadas na política, retrocedem a cada dia. Cadê a reforma política, o plebiscito, a mudança de práticas e costumes no processo eleitoral? Não se fala mais e ponto. Mudança mesmo só se deu no jogo de sempre: criação ou não de novos partidos, realinhamento de forças em função de minutos de propaganda eleitoral, fundos partidários e preservação de mandatos. Nada, absolutamente nada de substantivo para fazer valer o direito instituinte e constituinte da cidadania nas democracias.

Tivemos o escândalo da espionagem americana sobre nossas vidas e a louvável indignação da Presidente Dilma. Mas o escândalo da corrupção endêmica nas altas esferas do poder – fora a punição exemplar ao PT e seus aliados – continua um assunto menor. Ou alguém acredita que vai dar alguma coisa o tal fundo do metrô para os governadores do PSDB em São Paulo, bem maior do que o mensalão? E qual será o desfecho do fantástico esquema de desvio de recursos públicos na Prefeitura de São Paulo? Ou o sumiço dos recursos da reconstrução na Serra, no nosso Rio de Janeiro? Seguindo nesta vala obscura das ligações clandestinas para desvio de recursos públicos, o que dizer dos super salários no setor público, praticados com o maior escárnio, à revelia da lei, como se direitos fossem?

Dá para juntar muito mais explosões e fogos por aí que estão causando muita fumaça e ruído e deixando turvo o horizonte político. Lembro aqui o ameaçador Código de Mineração, a confusão dos leilões (Pré-Sal, aeroportos, rodovias…) e das parcerias público-privadas, o voto secreto no Congresso, a demolição do Elevado da Perimetral (por que e para quem?), o embaralhamento do processo eleitoral do ano que vem. A lista é longa, infelizmente.

Mas, como titulares de cidadania, devemos resistir e tentar entender. Criar “trincheiras” cidadãs para “guerras de posição”, como lembra o genial Gramsci, é condição incontornável para amanhã poder se mover e avançar. No Ibase, estamos praticando os “conversatórios” que são nada mais e nada menos do que a prática do livre pensar da conjuntura política. De tanto debater, uns e umas ajudando outros e outras, vamos acabar vendo melhor e saber onde incidir. Temos o ano de 2014 no horizonte próximo, muito desafiante. Nada como estar entrincheirados e preparados para o que der e vier. Afinal, optamos por radicalizar a democracia e “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

 Cândido Grzybowski é sociólogo, diretor do Ibase.
Fonte: Canal Ibase.


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