Nestas últimas semanas dois assuntos se destacaram na minha ação de educadora e militante. O primeiro diz respeito à agressão realizada em agosto do ano passado pela polícia do Pará ao menor, que foi baleado, e que só agora se tornou público. O outro, foi a morte de cerca de 9 jovens em Macaé. Isto quer dizer: o problema mora ao lado.
Neste sentido, me levo a pensar o que desejamos efetivamente contribuir para a nossa população e para os nossos jovens.
O atual modelo de sociedade, desigual, excludente e danoso reforça esta idéia. Temos um processo de banalização da violência, da delação e da invasão de privacidade. Para os que têm dinheiro, não há limites, todos acima do bem e do mal. Para a plebe, a mão dura da Justiça cega. Como cobrar do moleque que quer o tênis da TV e não pode comprar, mas em cada esquina esbarra no danado do calçado em outros pés, que combinam com a bermuda da Osklen?
Vira e volta me encontro com textos de Frei Beto, o padre boa praça que nos encheu de ternura e tenacidade para lutar pelos oprimidos e sem voz que povoam este país de meu Deus. Num destes artigos, o Frei nosso amigo bebe em outra fonte para nos dar um toque, muito embora carinhoso, como sempre. Beto serve-se de GenZygmunt Bauman para pôr o dedo na ferida e denunciar o limite da liberdade na modernidade capitalista.
Dizia Frei Beto, que “os mais progressistas até admitem que, na reforma, o quarto de empregada seja deslocado do exterior para o interior da casa. Até aqui o limite da lógica capitalista. Além disso, suprime-se a liberdade de quem ousa propor que não haja quarto de empregada nem empregada. No máximo diaristas sindicalizadas e com todos os direitos garantidos por lei. Inclusive o acesso à casa própria”. Santa ousadia! Como circunscrever essa teoria do Direito num espaço delimitado e engessado? E eu aqui novamente montando um quebra-cabeças bem complicado no sentido da igualdade.
Se na teoria podemos conjugar mesmo o verbo ter no seu sentido mais amplo, principalmente aquele relacionado ao direito e à liberdade, na prática há limites que demarcam e controlam. E dessa maneira, como pensar em uma sociedade mais igualitária sem os famosos quartos e banheiros de empregada, em sua maioria apertados, sem janelas ou acesso à luz do sol com um rádio de pilha solitário a tocar canções bregas e a fazer companhia a pessoas também tão sozinhas.
Quanto mais a sociedade de consumo avança e nos oferece um mundo digital colorido e maravilhoso, mais temos a impressão de alcançar a liberdade sem limites, um prazer inexorável. Lembro de uns anos atrás, em que falávamos do lazer, do direito ao lazer. Na teoria todos temos direito ao lazer, e parece que nisso todos concordam. Entretanto, é bom lembrar que o lazer é pago. E na maioria das vezes o preço é alto. Nesse caso, há o limite supremo do poder de consumo. Aí não tem remédio, a maioria está mesmo de fora, sem acesso.
Ele nos diz mais ainda, que “resgatar o direito político à liberdade é o desafio se almejamos que, no futuro, a violência não extrapole do âmbito privado para o público. E imprimir ao exercício coletivo da liberdade um sentido, uma direção, um horizonte capaz de superar a grande antinomia do atual modelo de democracia: em nome da liberdade, a maioria é excluída do direito à justiça social’’.
Guilhermina Rocha (Especialista em Educação e Historiadora)
Presidente do CEPRO CEPRO – Um Projeto de Cidadania, Educação e Cultura em Rio das Ostras.
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