“A desigualdade brasileira está entre as dez mais altas do mundo, apesar de estar no piso das nossas séries históricas.” Assim começa Marcelo Cörtes Neri artigo no Valor sobre o tema.
A grande novidade no mundo é que a desigualdade diminuiu, graças sobretudo à sua diminuição em países como a China, a Índia e o Brasil, enquanto ela aumenta nos países do centro do capitalismo. A China e a Índia abrigam a metade dos pobres do mundo, então os efeitos da diminuição da pobreza nesses países é determinante para sua inédita diminuição em escala mundial.
A trajetória da desigualdade de renda no Brasil, de 1970 a 2000, diz o artigo, “lembra o cardiograma de um morto”, isto é, nao se moveu, nem com democracia, nem com ditadura, nem com expansão, nem com recessão. “O único sinal de vida foi dado no movimento de concentração de renda ocorrida entre 1960 e 1970, quando o Gini chega próximo a 0,6, e se estabiliza nesse patamar”. Isto, sob o feito do golpe, da repressão aos sindicatos, ao arrocho salarial, à concentração de renda e à exclusão social promovidos pela ditadura, aumentou ainda mais a desigualdade e ficou nesse patamar até os anos 2000.
A desigualdade de renda no mundo começa a cair com o crescimento chinês – ao contrário do que se propala, que teria aumentado na China a desigualdade com o crescimento – indo de 0,63 em 1990, para 0,61 em 2000. A inflexão mais acentuada se dá a partir de 2000, quando a expansão econômica se dá também na Índia. Na sua combinação, o Gini mundial cai para 0,54 em 2009, chegando ao piso da série iniciada em 1950.
De forma similar e paralela, a queda brasileira se dá já nos anos 2000. Depois de 30 anos de alta desigualdade inercial, o Gini começa a cair, passando de 0,6 para 0,54 em 2009. A desigualdade continua em queda, e em 2010 cruza o piso de 1960 e entra no 12º ano de queda consecutiva. “Em janeiro de 2012, o Gini atinge 0,519, caindo no ano passado a uma taxa quase duas vezes mais acelerada do que a dos primeiros anos da década passada.”
O descolamento entre os emergentes e os países do centro do sistema se acentua com a crise atual, em que a aplicação de políticas recessivas e seletivamente cruéis contra os mais pobres. “Os primeiros anos do início do novo milênio serão conhecidos nos futuros livros de história brasileira e de história geral como de redução da desigualdade. Em contraste com os móvitos da ocupação de ícones de riqueza norte-americana e europeia, a começar por Wall Street”, termina ele o artigo.
Fonte: Carta Maior.
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